Henrique Afonso já chegou aos Açores após viagem de 40 dias
Velejador madeirense navegou grande parte do tempo sem vento e chegou a ficar sem combustível. Surpreendentemente, um navio britânico acabou por parar e ajudar o 'Pirata' que estava ainda a 800 milhas do arquipélago açoriano. O momento ficou registado em vídeo e partilhamos aqui
O 'Pirata' da Madeira está na recta final da sua circumnavegação iniciada a 15 de Janeiro de 2019. Neste último trajecto da viagem que compreendeu cerca de quatro mil milhas náuticas, Henrique Afonso explica que teve de começar a racionar. "Só comia arroz com cebola e esparguete com cebola", recorda o velejador que está prestes a concluir a volta ao Mundo na 'Sofia do Mar', um barco com pouco mais de nove metros de comprimento.
Depois de ter saído da Namíbia no final de Março, Henrique Afonso rumou até ao Brasil numa viagem que durou 26 dias. Quando chegou a terras de Vera Cruz a experiência não correu como queria por força da situação pandémica do país sul-americano que fechou literalmente a porta de entrada ao madeirense que está a dar a volta ao Mundo num veleiro há mais de dois anos.
“Não me deixaram entrar porque os portos estão fechados devido à situação pandémica. Tive de ficar ancorado em Recife - onde acabei inclusivamente por ficar preso num banco de areia - e, entretanto, saí e fui para Paraíba, em Jacaré. Aí fiquei novamente ancorado”, recorda ao DIÁRIO o velejador que já está nos Açores, na ilha do Faial, após uma viagem que demorou 40 dias a concluir.
Ainda no Brasil, com problemas na hélice e no motor, o ‘Pirata’ conseguiu arranjar ajuda sem poder ir a terra. Um mecânico pediu documentação às autoridades de saúde brasileiras no sentido de obter autorização para reparar os problemas no veleiro, que acabou por ficar arranjado.
No dia 1 de Maio decidiu finalmente sair da América do Sul rumo a casa e até agradeceu o compasso de espera para apanhar bom tempo e subir rumo aos Açores.
“Foi uma viagem maravilhosa que durou 40 dias só que tive a infelicidade de apanhar pouco vento”, lamentou, recordando um dos momentos mais marcantes desta viagem, quando “estava parado com as velas no ar e o mar era como azeite”.
“Passou um barco que me interpelou via rádio. Era o SD Victoria, uma embarcação de apoio com bandeira britânica. Queriam saber de onde é que eu vinha, para onde é que eu ia e o que é que fazia ali. Expliquei que estava a seguir rumo aos Açores, que estou a dar a volta ao Mundo e que não tinha combustível nem vento para levantar o cabelo”, explicou o madeirense que comanda um veleiro capaz de encher até 40 litros.
Estava extremamente relaxado e nem pedi nada. Passados alguns minutos eles ligaram novamente. Perguntaram outra vez se eu não tinha diesel e eu voltei a dizer que não. Eu não tinha pressa. Estava relaxado, porque voltava a casa. Eles acabaram por me oferecer combustível. Deram a volta, pararam e passámos os jerricans através de um cabo, numa manobra maravilhosa. Henrique Afonso
Num desses momentos, um dos tripulantes, que "parecia o chefe da cozinha", perguntou se Henrique Afonso estaria bem apetrechado de comida para o resto da viagem.
"Estava tão emocionado com o gesto que naquele momento nem reflecti e disse que estava tudo bem. Era aquele barco ali, a Sofia do Mar e um pôr-do-sol magnífico naquele momento", recorda até com algum saudosismo.
No dia a seguir fui fazer o pequeno-almoço e quando comecei a ver… já não tinha muita comida. Por que não pedi comida a eles? Continuei viagem e tive de começar a racionar. Só comia arroz com cebola e esparguete com cebola. Henrique Afonso
Agora em terra e já com os devidos acompanhamentos para quando decide cozinhar arroz ou esparguete, o 'Pirata' diz que foi recebido "não como um rei ou um herói mas como o Henrique Afonso". Da ilha do Faial o madeirense vai depois partir para a Terceira e aproveitar um pouco da estadia antes de rumar à Madeira, onde irá concluir esta verdadeira epopeia.
O madeirense, que já falou à RTP-Açores, explicou que à chegada teve de ficar ancorado "como todos" os velejadores devido às restrições impostas pelas autoridades de saúde regionais.
No dia seguinte à chegada fez um teste, que deu negativo. Henrique recebeu o resultado com muita naturalidade e humor, isto porque diz que não estudou e o resultado seria óbvio após tanto tempo em alto mar. "Há montes de barcos à espera do teste, tal como eu", evidenciou.
Poderá acompanhar todas as aventuras de Henrique Afonso na sua página de Facebook, rede social onde conta actualmente com mais de 46 mil seguidores.