Lembram-se?
Lembram-se da quantidade de vezes que o governo já afirmou querer pavimentar a estrada das Ginjas, ‘querqueiramquernão’?
Lembram-se que organizações não governamentais, partidos e cidadãos levaram o problema à Unesco, para além de terem tomado posição pública sobre o projecto e o Estudo de Impacto Ambiental (EIA)?
Lembram-se da irritação da secretária do Ambiente perante a grande participação na Consulta Pública do Estudo de Impacto Ambiental desse projecto?
Lembram-se que o governo tentou enfiar alterações ao projecto inicial mudando a largura da intervenção, substituindo o alcatrão por paralelepípedos, retirando docas e criando portões de acesso – tudo à socapa, como se de insignificâncias se tratasse?
Lembram-se que o eurodeputado Francisco Guerreiro enviou em Março uma carta à Unesco, que na resposta afirma rejeitar a pavimentação?
Lembram-se que Moraes Cabral, presidente da Comissão Nacional da Unesco, enviou (por razões que eu gostava de conhecer) uma carta à secretária do Ambiente felicitando o governo regional pela condução exemplar das Ginjas?
Então lembrem-se, lembremo-nos, para perceber bem o que significam as declarações do director regional do Ambiente, na entrevista à Antena 1.
Desde logo, esta entrevista é o espelho da cobardia política e do objectivo e descarado lavar de mãos. Quando se trata de ficar em bicos de pés, aparece (ignorando o dono da obra que é o secretário da Agricultura) a secretária de olhar cândido; quando se trata de um recuo em toda a linha manda-se o subalterno para a cabeça do touro. Sempre evita ter que dar o dito por não dito à frente de toda a gente.
Mas porque a trapalhada é grande e o recuo estrondoso, é difícil não perder o pé. E perder o pé foi o que bem se viu que aconteceu na Antena 1.
Em palavras simples, o Diagnóstico de Impacto Ambiental (DIA) feito pela direcção regional de Ambiente iria chumbar o EIA das Ginjas (o tal que foi entregue em abril de 2019 a uma empresa constituída em dezembro de 2018 e cuja actividade é, ainda hoje, praticamente igual a zero). Para evitar ter que assumir a derrota, o promotor retirou o projecto e diz que fará outra proposta – nas palavras do entrevistado “mais amadurecida, mais pensada, pelo menos mais clara” !!!
Em palavras ainda mais simples, as declarações do director regional de Ambiente têm pés de barro. Se não, vejamos:
- como é que pode dizer que o EIA integra ‘preocupações’ sobre o projecto ou que “critica o próprio projecto de uma forma construtiva”?? A menos que estejamos a falar de dois documentos distintos – o EIA que foi lido e analisado pelo entrevistado e aquele que eu li, onde só encontro elogios e ‘soluções’ para uma boa viabilidade económica – esta afirmação é de uma falsidade completa.
- “as pessoas têm que compreender que no regime de Impacto Ambiental a participação pública é essencialmente para dar a conhecer uma intenção de uma obra” – são palavras do director regional de Ambiente a quem eu digo que, se não está a gozar connosco e a achar que somos todos tontos, tem que ir estudar a legislação…
Lembrem-se! Lembremo-nos!
Porque se esta é a última posição oficial – e é! – continua, de uma penada, a ameaça sobre a Laurissilva e o ataque à nossa inteligência e à nossa condição de cidadãos conscientes e interventivos.
Ah! E o ‘promotor’ de que Manuel Ara fala, é o governo regional. Nem nisso foi capaz de não gaguejar.