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Celebrar Portugal

É um momento de introspeção, individual e coletiva, e de reflexão viva que não se pode perder no tempo apressado

Celebrar na Madeira o 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, tem um significado especial. Realizar a cerimónia militar - momento alto das comemorações - na Praça da Autonomia, na Avenida do Mar e das Comunidades Madeirenses, também.

Celebrar Portugal é, de facto, recordar a nossa história, a nossa gente, o nosso caminho, os nossos maiores pensadores, os verdadeiros. Aqueles que lutam e, humilde e discretamente, pensam. E nos fazem pensar. É sentir a nossa pátria. Honrá-la. É reconhecer a bravura e a coragem do nosso povo, aqui e além fronteiras. E foram tantos os que partiram procurando dar mundo à sua vida e nova vida ao nosso mundo. E todos somos casa, somos base, mas também somos vida e somos mundo. Somos conforto e desconforto. Somos dúvida e descoberta. Somos conquista. Somos sonho.

Sou madeirense e sou português. E sou do mundo, mesmo que não o conheça. E sou sempre um cidadão do mundo. Parto e regresso. Sou sempre português. Sou ilha e sou mar imenso, salgado. Sou terra e sou lar. Sou berço. Sou esperança e sou mudança. Sou pátria e sou autonomia. Sou a pátria que me quer bem, e livre.

É dia de celebrar Portugal. Mas é muito mais do que um momento que se repete. É um momento de introspeção, individual e coletiva, e de reflexão viva que não se pode perder no tempo apressado. Este é um regresso, mas tem de ser, acima de tudo, um momento de mais uma partida. De começo e de recomeço. O início de mais um caminho que temos sempre de saber percorrer, assumindo-o com verdade e com coragem. Como em todas as caminhadas, temos de saber parar, respirar, matar a sede, limpar o suor e as lágrimas, pensar, inspirar fundo, suspirar, olhar para trás e seguir em frente. Esse é o nosso destino. Seguir em frente sempre. Celebrar o passado - sim, creio que devemos fazê-lo serenamente e com muita lucidez - e caminhar, assumindo os grandes desafios do futuro. E são tantos...

São tantos e tão inquietantes. E nada será como sempre foi. Ou muito pouco. Não basta reagir apenas no imediato, alimentando paralisias e inércias. É preciso caminhar. Dar nova vida ao mundo. Assumi-lo com coragem. Assumir a nossa pátria e cuidar do nosso povo, do nosso mundo, daquele em que vivemos e que deixaremos aos nossos filhos. Dos nossos lugares. É preciso pensar o futuro, assumindo novos paradigmas, novos posicionamentos e novas dinâmicas. Adquirindo novas competências. Sempre críticos e atentos. Responsáveis e esclarecidos. Justos e transparentes, porque assim tem de ser a nossa pátria e o mundo em que vivemos.

Celebrar Portugal é, pois, mais do que um momento. Não é apenas hoje. É sempre. É seguir em frente, com todos. É acreditar. É assumir um novo mundo. Somos pátria e somos mundo, sempre. Somos de quem nos quer bem, e livres.