Há alojamento turístico a mais na Madeira?
Hoteleiros madeirenses acreditam que no destino Madeira ainda há espaço para investimento
Os CEO da Savoy Signature e Pestana Hotel Group estão alinhados nas suas visões, que mostram ainda haver espaço para investimento na região, mas que se focam também numa estratégia nacional e internacional. Na Madeira, o crescimento desmesurado da oferta de alojamento diz respeito, nas suas opiniões, ao Alojamento Local.
No Debate da Semana da TSF-Madeira, de 28 de Maio, André Barreto, director-geral da Quintinha de São João alertava que “há hotéis que durante a pandemia fecharam e já não vão reabrir”, temendo que, não sendo as unidades e empresas reconvertíveis, “algumas destas unidades fiquem por aí, definhando na paisagem.”
Se, por um lado, temos a realidade do impacto económico na vida das empresas do turismo, e o encerramento de unidades hoteleiras na Madeira, por outro anuncia-se a reabertura do sector, a chegada de turistas estrangeiros e a aposta no mercado interno. Mais, anuncia-se a reabertura de unidades que encerraram portas em período de confinamento, mas também a inauguração de novas unidades.
Soube-se, ontem, que o novo hotel da Savoy Signature, o NEXT, vai abrir portas no Funchal no próximo dia 1 de Julho. Soube-se, também recentemente, que o Pestana Hotel Group adquiriu o Madeira Palácio ao Millennium BCP, por 45 milhões de euros. Embora a antiga unidade vá ser convertida em residências, o projecto total inclui a construção de um hotel nos terrenos que fazem parte do lote, na Praia Formosa. Um novo hotel Pestana, com cerca de 150 quartos, que se juntará ao vizinho Pestana Bay.
A cadeia hoteleira anunciou, também ontem, a abertura de mais uma unidade CR7 Pestana Lifestyle Hotels, desta feita em Madrid. O Pestana Hotel Group, juntamente com as Pousadas de Portugal é, de resto, o maior grupo hoteleiro nacional, mantendo-se no topo do ranking há mais de 10 anos. O Atlas da Hotelaria 2020, da Deloitte, relativo ao ano de 2019, dava conta de 73 unidades do grupo, que equivaliam a 8.337 unidades de alojamento (quartos ou apartamentos).
Quando questionado sobre o potencial excesso de oferta hoteleira na Madeira, José Theotónio revela ao DIÁRIO que “numa perspectiva de curto prazo e no actual estado da procura turística a resposta é sim, mas se olharmos a médio prazo, um destino com o potencial da Madeira não tem hotelaria tradicional a mais.” Por outro lado, considera que “o que tem crescido nos últimos anos, e a ritmo acelerado, é o Alojamento Local e tem sido por aí que se tem verificado um aumento importante do número de camas turísticas na Madeira.”
Desta forma, para o CEO do Pestana Hotel Group, vale a pena continuar a apostar no destino Madeira, usando como exemplo a compra do Madeira Palácio: “acabámos de fazer um investimento muito significativo, de dezenas de milhões de euros. Não há maior prova [de que achamos que a aposta deve continuar] do que esta.”
Além disso, e sendo o Pestana um grupo com forte presença internacional, lembra que “o apostar na Madeira não é contraditório com o apostar lá fora. É complementar.” Para José Theotónio “há que diversificar o risco, quer geograficamente, quer em termos de negócios, e é isso que o Grupo Pestana tem procurado fazer.”
Relativamente à região, o ranking da hotelaria de 2020 coloca os grupos Pestana e PortoBay na primeira e segunda posições, respectivamente. Logo em terceiro aparece a Savoy Signature, que, à data, apresentava uma diferença de apenas 47 unidades de alojamento relativamente ao segundo lugar.
Bruno Freitas, CEO da Savoy Signature, está alinhado com José Theotónio, quando elucida que “o grande desafio da cidade e da região é, efectivamente, o crescimento desmesurado de empreendimentos e camas ao nível de Alojamento Local (AL), pondo em causa uma estratégia de captação de turismo de luxo ou de qualidade, pois os lugares de avião ocupados pelos clientes AL não permitem acomodar outros clientes directos da hotelaria.”
O crescimento do parque hoteleiro no Funchal tem sido controlado pelos planos urbanísticos ao longos dos anos. Enquanto os empreendimentos turísticos precisam de autorização específica para a actividade, o AL ainda não tem limitações, bastando ser feito o pedido junto da Câmara Municipal.
Para o futuro, a Savoy Signature pensa aliar os investimentos na região a outros lá fora, estando atenta a oportunidades em Portugal Continental e em Espanha. A marca acredita que no seu plano de expansão o próximo passo natural seria abrir uma unidade em Lisboa, Porto ou Algarve, antes de se aventurar além-fronteiras.
No total, novamente segundo o Atlas da Hotelaria 2020, a Madeira congregava 10% das unidades de alojamento de Portugal, um total de 15.389, representando 7% do total de empreendimentos turísticos. A média de quartos/apartamentos por hotel era de 100 unidades, apenas ultrapassada pelo Algarve, com uma média de 102 unidades. Em 2019, a Madeira tinha uma taxa média de ocupação de 69,9%, a segunda mais alta em todo o país, a seguir a Lisboa (76,1%).