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Faz sentido celebrar a Europa

A 9 de Maio, em toda a União, celebra-se a Europa. Com tanto ceticismo, com o crescimento de populismo às extremas esquerda e direita, com tanta descoordenação entre Países no decorrer desta pandemia, com a saída do Reino Unido, faz sentido continuar a celebrar a Europa.

Tal como no passado, a Europa é um projeto em constante construção. Com falhas, claro, com sobressaltos, com processos negociais complexos, mas com um conjunto de conquistas e sucessos com mais benefícios do que sacrifícios para o bloco europeu.

A crise pandémica, social e económica que atravessamos, convoca-nos a refletir, com profundidade, sobre temas que exigem reformas estruturantes: do ponto de vista organizacional, há um imperativo de execução. Na Saúde, na Educação, no Trabalho, no Social… não é possível conviver com modelos que estão em vigor há décadas, sem evolução. Aperfeiçoar o projeto europeu e ter coragem política para adaptar as suas regras depende de todos nós.

A Conferência sobre o Futuro da Europa tem de ser mais do que um espaço de debate. Daí devem sair soluções e um caminho orientado pelos desafios da atualidade. Só com soluções e coragem de implementá-las poderemos garantir o futuro dos nossos filhos e continuarmos a acreditar numa Europa moderna, mais solidária, mais social, mais justa.

Portugal e as suas regiões ultraperiféricas, a Madeira e os Açores, têm contribuído para o fortalecimento deste projecto europeu. As nossas gentes, o nosso património imaterial e material enriquecem a Europa. Mas a Europa tem a obrigação de continuar a zelar pelo tratamento diferenciado destas Regiões, mitigando as discrepâncias que as colocam em patamar diferenciado das restantes regiões europeias.

Em 1995, Portugal apresentava um PIB per capita 19% abaixo da média da UE, enquanto que na Bélgica esse valor era 26% superior e na Polónia 43% inferior. Em 2019, os dados referentes a Portugal pioraram (22% abaixo da média), assim como na Bélgica (17% superiores à média, menos 9 pontos percentuais que em 95), mas a Polónia viu o seu valor quase duplicar, ficando agora “apenas” 26% abaixo da média dos 27.

Estes dados demonstram que na integração europeia ainda temos caminho a percorrer e as diferenças a 27 ainda perduram. Mas o prognóstico é real: sozinhos não estávamos melhor. Não devemos reduzir a União Europeia a números, a apoio financeiro. Os valores que dela emanam são parte do modo de vida europeu: o respeito e a dignidade do Ser humano, a democracia, a igualdade, o Estado de Direito, os direitos humanos. Valores comuns aos países que a compõem, numa sociedade onde deve prevalecer a inclusão, a tolerância, a justiça e a não discriminação.

Celebrar a Europa é continuar a lutar para levar mais Portugalidade à Europa, mais Ultraperiferia à União, porque essa multiculturalidade enriquece social, económica e geograficamente a Europa. Deixar um legado aos nossos filhos, às gerações futuras para que continuem a construir a Europa que ambicionam viver.