Madeira

Zeca Afonso foi impedido de dar o seu primeiro concerto na Madeira há 50 anos

No Canal Memória de hoje, veja o que foi notícia a 7 de Maio de 1971

Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira.
Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira.

Faz hoje meio século que o cantor e compositor Zeca Afonso foi impedido de fazer a sua primeira actuação na Madeira, mais precisamente no Teatro Municipal Baltazar Dias. Era um concerto na mais emblemática sala de espectáculos do Funchal, juntamente com Adriano Correia de Oliveira, acompanhados à viola por Carlos Correia. Nessa altura os seus temas já agitavam o meio estudantil de Coimbra, na universidade onde se licenciara em Ciências Histórico-Filosóficas em 1963. Acontece que, apesar ter tido muita procura pelo público madeirense e de ter sido publicitado como "um acontecimento sem precedentes", o espectáculo foi cancelado no próprio dia, possivelmente por acção da polícia política PIDE/DGS. Não houve explicações públicas para o sucedido.

Nessa fase a música de Zeca Afonso já era maldita para o regime salazarista, que o proibira de dar aulas. Esses factos eram do conhecimento público na Madeira. Aliás, um ano antes do anunciado concerto no Funchal, numa notícia na edição de 13 de Maio de 1969, o DIÁRIO informava que o “cançonetista e declamador espanhol” Manolo Diaz tinha sido detido pela polícia política PIDE/DGS e “posto na fronteira” quando se preparava para dar um espectáculo no Teatro Villaret em Lisboa onde iria interpretar “obras de carácter subversivo, como algumas do poeta dr. José Afonso”.

Mesmo com estes antecedentes, a Câmara Municipal do Funchal autorizou a cedência do Teatro Baltazar Dias para o concerto de 7 de Maio de 1971 para “Adriano Correia de Oliveira e José Afonso dos Santos ali realizarem um espectáculo de fados e canções de Coimbra”. A verdade é que o concerto foi cancelado no próprio dia, sem qualquer justificação. Tendo em conta o contexto político, a explicação mais provável é que tenha sido proibido pela PIDE/DGS.

Não menos complicada foi uma visita posterior de Zeca Afonso, já depois da revolução do 25 de Abril, quando o cantor acompanhou Otelo Saraiva de Carvalho na campanha presidencial. A 18 de Junho de 1976 houve discursos e cantou-se ‘Grândola’ num comício no Almirante Reis, mas noutro comício em Machico a tropa do general Carlos Azeredo travou a actuação, cortando a energia eléctrica e dispersando a multidão com recurso à violência. Quem testemunhou o episódio relata que Zeca e Otelo tiveram de passar a noite em casas particulares e, no dia seguinte, quando seguiam para o aeroporto, escaparam a um atentado que a FLAMA abortou à última da hora.

Há registo de pelo menos mais um espectáculo de Zeca Afonso na Madeira. Foi a 27 de Setembro de 1980, no Parque Santa Catarina, num comício da Aliança Povo Unido (APU, coligação do PCP, MDP e Verdes) com Júlio Pereira. O cantor e compositor faleceu a 23 de Fevereiro de 1987, com 57 anos.

Descarregue aqui a edição de 7 de Maio de 1971 e recorde esta e outras notícias.