As amigas e o 1.º de Maio
- Olha a Helena, ao tempo que não te via, “pequena”!
- Os dias passam tão depressa, que nem os sentimos. De facto há meses que não nos vimos.
- Se não estou a fazer as contas mal, talvez não nos falamos desde o carnaval.
Vamo-nos sentar, tomar um cafezinho e conversar.
- Então, conta-me coisas e lousas, fala-me do teu 1º de Maio, como o passaste. Saltaste “à laje”?
- És sempre a mesma “destrambelhada”, ninguém pode estar contigo sem dar uma gargalhada.
- Eu sei. Mas ainda não respondeste ao que te perguntei.
- Nem te vou responder. Lá foi o tempo que tudo o que fazíamos, uma à outra dizíamos.
- Belos tempos. Apesar das dificuldades, vivíamos momentos de felicidade.
- É verdade. Esperávamos o 1º de Maio com tanta ansiedade, nem que fosse só para dar as mãos aos rapazes.
- Então não me lembro, quando jogávamos ao jogo do lenço!
Só o contacto das mãos fazia-me palpitar o coração.
E se o contacto fosse mais aprofundado, o meu corpo” ardia” que nem o forno a lenha lá da casa de minha tia!
- E a gente sabia que os rapazes também sentiam.
- Sim. Só que nem sempre a “fogueira” se acendia, mas o saldo era positivo no final do dia.
- Ainda me lembro de minha mãe me dizer. Vai lá com os teus amigos, mas vê o que vais fazer. Brinca, salta, diverte-te mas olha com quem te metes.
Nessa brincadeira ainda fazes alguma asneira. Tens uma queda, magoas-te num joelho ou numa perna e aleijada não podes trabalhar, nem fazer nada.
Antes de sair, ainda lhe dizia a rir. Mãe, fique descansada, da “ cintura para baixo” eu vou ter cuidado, não me vai acontecer nada… e saía espavorida antes que o chinelo desandasse atrás da minha “crista”!
-AI,AI, amiga, tempos idos, agora “saltar à laje” só mesmo com o marido. Ainda assim falei com o meu e sabes o que ele me respondeu?
Para isso já não tenho pachorra, nem idade, o que a gente pode fazer é comer, beber e… dar um passeio pela cidade!
- Olha, o meu que tem mais idade que o teu, ainda mal passava das sete, abanou-me e disse:
Acorda, Arlete, já está a fazer-se tarde para “saltarmos à Laje”
- E tu – com a tua maneira de ser – lá foste saltar, estou mesmo a ver.
- Não és bruxa, mas advinhas. Só que, essa coisa de saltar para baixo, saltar para cima, ainda não era meio-dia já não me aguentava da “espinha”!
- Acredito, querida, mas, “o que é por gosto regala avida”!
- Mas meu marido também já estava cansado, mesmo antes de mim ele já andava derreado!
- Sim, mas dá graças a Deus, tal como tu, ele deu conta do recado!
- É verdade, bem vistas as coisas ainda não nos podemos queixar da idade. Andam novos aí que só Deus, Nosso Senhor, é que sabe.
- Fazem de conta que “saltam à laje”!
E lá se foram as amigas, divertidas, cada uma à sua vida!
Juvenal Pereira