O 25 de abril sem complexos (II)
Porque a forma como se comemora abril é enfastiante, que até parece de propósito, é necessário reformular. E a melhor forma é analisar a sua génese e suas consequências práticas. Há dias referi-me ao aspeto mais negativo que foi sem dúvida o da descolonização. Mas a democracia e o desenvolvimento (os 3 D) também devem ser analisados uma vez que a população portuguesa não está nada satisfeita com nenhum deles. A nível da democracia é sabido que a sua qualidade é uma das piores da UE, segundo estudo recente, muito por culpa da falta de participação da população nos processos de decisão política. E não se venha culpar apenas esta porque posso apontar um exemplo concreto no qual a população é afastada propositadamente do órgão de poder das autarquias (vereação). É o caso da legislação autárquica que prevê um órgão de consulta da população por parte do presidente e não existir um único município em que tal aconteça. Afinal os governantes têm medo de quê? Quanto ao tipo de desenvolvimento com que a população tem sido presenteada, muito pela ajuda recebida da UE, há muito que refletir porque o fosso entre ricos e pobres tem aumentado certamente porque o modelo é gerador de uma injusta repartição da riqueza. E por último é necessário explicar, sobretudo aos jovens nas escolas, que o 25 de abril teve causas mediatas constituindo uma reação ao fascismo assim como este antes fora uma reação ao liberalismo, mas também causas imediatas entre as quais sobressai o isolamento de Portugal a nível internacional devido à sua política colonial assim como à natureza do regime (fortemente limitadora dos direitos cívicos) aspetos que impediam o acesso do país à CEE. A estas acresce ainda o cansaço dos militares do Quadro Permanente a nível dos capitães que faziam comissões sucessivas sem que no horizonte se perfilhasse uma solução política para a guerra tendo os mesmos clara consciência que a mesma não tinha solução militar e que os políticos nada faziam para acabar com a mesma continuando na sua teimosia de que as colónias faziam parte do todo nacional.
Manuel João Batista Rosa