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Mudar de Marca

O que dizer então da nossa marca no desemprego jovem, líderes incontestados há muitos, muitos anos?

Há marcas que, com maior ou menor sucesso, maior ou menor polémica, maior ou menor investimento, são mudadas facilmente. É, no limite, uma questão de gosto e de jeito, ou de falta deles. Foi assim com a nova marca Madeira, que depois de alimentar intensas e calorosas discussões sobre os seus méritos e defeitos, todos esperamos que venha ajudar a relançar um sector na Região absolutamente imprescindível para uma recuperação económica pós-pandémica forte, que nos permita esbater as consequências sociais da pandemia. Mas se uma mudança de marca, paga a peso de ouro, foi o suficiente para suscitar tão acesas paixões e despertar o “marketeer” que vive dentro de cada um de nós, o que nos leva então a reagir tão apaticamente perante outras marcas, muito mais graves, da nossa Região?

O que dizer, por exemplo, da nossa marca no desemprego, líderes absolutos no todo nacional? E não, não é apenas consequência de uma pandemia que nos atingiu, no campo económico, com especial intensidade, porque absolutamente dependentes de dois ou três sectores apenas; é uma marca estrutural da Região, onde pairamos sempre acima da média do todo nacional e reinamos a cada crise que se instala, por mais indicadores próprios de actividade económica que alguns insistam em inventar.

O que dizer então da nossa marca no desemprego jovem, líderes incontestados há muitos, muitos anos? O que dizer dessa marca que atinge sucessivas gerações, incapazes de encontrar nas suas próprias qualificações um escape a esse drama intergeracional?

O que dizer da nossa marca na precariedade laboral, que fustiga em especial as gerações mais novas, com contratos precários, sem salários dignos e sem qualquer estabilidade que lhes permita ter horizontes de progressão profissional, pessoal e familiar?

O que dizer então da nossa marca na pobreza, que, tantos e tantos milhões depois, continua a envergonhar os que dela sofrem e os que com ela convivem sem encontrarem soluções dignas?

O que dizer da nossa marca na emigração, campeões olímpicos além-fronteiras em todas as áreas de actividade, onde em cada esquina de um qualquer país encontramos um madeirense? O que dizer dos que foram, voltaram e partiram novamente, porque não encontraram na Madeira as condições de vida necessárias para constituírem família e terem uma vida digna?

O que dizer então das nossas marcas no abandono escolar precoce, nas listas de espera na saúde ou para habitação? Das nossas marcas na coesão territorial que não chega ao Porto Santo? O que dizer das marcas desta Autonomia, que alguns proclamam de mão no peito, mas cujos resultados envergonham quem a imaginou?

O que dizer da marca social e económica da Região, vivida a preto e branco, de tão antiga que é e de tão grave que permanece? Desta marca que outras marcas mais coloridas vendidas ao exterior não apagam, antes acentuam, de tão distintas que são? E perante tudo isto, como se fosse pouco, o que dizer então de continuarmos a insistir colectivamente na mesma marca política, governados há quase cinco décadas, 50, cinquenta! anos pelo mesmo poder, as mesmas ideias, as mesmas cores gastas, as mesmas marcas do PSD e agora também do CDS?

Não há, como no caso original, centenas de milhares de euros que nos permitam mudar estas marcas instantaneamente - mas se houver energia, empenho, dedicação, esperança, compromisso e coragem, haverá o suficiente e o necessário para mantermos de pé uma verdadeira alternativa política na nossa Região, que não pode ousar julgar que há figuras menores dispensáveis desse combate. O que nos fará mudar estas marcas será mesmo mudarmos de marca governativa - e isso faz-se, de 4 em 4 anos, através do voto. Nas próximas eleições autárquicas, lembre-se disso e de quem nos trouxe até aqui.