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Asiáticos no Alentejo? Não vi nenhum…

Não percebi como é que nunca ninguém viu que viviam 13 mil imigrantes em Odemira com a cara diferente das gentes da terra. Assim, a puxar para o asiático, com a pele mais escura, o nariz mais largo, os olhos incrivelmente negros.

A descida para o inferno daqueles emigrantes do Nepal, Bangladesh e arredores começou quando chegaram a Portugal, quando entregaram os passaportes aos senhores que os compraram, vendendo-lhes a sua dignidade, a sua liberdade, os seus mais elementares cuidados básicos de saúde e de higiene.

Portugal tem gente desta, sim. Não andam de chicote, mas acenam com uma miséria por mês e ainda lhes descontam o alojamento, onde dormem amontoados e onde não encontram o el dorado que lhes prometeram em cores de frutos vermelhos.

Devemos estar perto de um novo apocalipse, pois pela primeira vez na vida concordei com o Miguel Sousa Tavares. Isto é escravatura, todos sabiam e todos lucravam com o negócio dos escravos do século XXI. E ainda há campanhas a apelar ao consumo de produtos nacionais. Como se não fosse fácil identificar esses empresários e os colocar numa lista negra de produtores a quem não se comprasse nada.

E depois devíamos fazer uma comissão de inquérito no Parlamento a ver até onde isto ia, para ver se os empresários agrícolas, que não são agricultores, também faziam como o Bernardo Moniz da Maia que na Comissão Parlamentar da semana passada não tinha visto nada, não sabia que tinha empresas, nem sabia como se chamavam, sabia só que era administrador do grupo Moniz da Maia, que convenhamos, muitos de nós só soubemos nesse dia que existia. Caramba, uma pessoa já não pode dever 550 milhões de euros a um banco e também se esquecer disso? Nessa ordem de ideias, se os empresários, ditos agricultores, tiverem guardado nos seus cofres milhares de passaportes de imigrantes asiáticos, não se pode condenar. A memória muitas vezes prega partidas.

É estranho como em três dias, a metade do país que jurou que não sabia que tínhamos 13 mil almas encarceradas no Alentejo veio a terreiro dizer que já sabia do caso e que estava farta de avisar. Não fosse o Covid e os mesmos iam jurar que nunca tinham visto um asiático em Odemira. Até a Polícia Judiciária andava há tanto tempo de olho neles, nos malfeitores, como deixou claro o Diretor Nacional. Tenho pena que, além do olho, não lhes tenham deitado a mão. Fechada, de preferência, debaixo de uma aduela para ninguém perceber. Ouvi dizer que é uma técnica muito utilizada, mas estou como o Maia e não sei nada, não me lembro quem é que me contou. E até acho que isto é tudo um exagero, pois aqueles 13 mil asiáticos só vieram guardar lugar para o próximo festival da Zambujeira do Mar. O trabalho é para se distraírem.