Modi resiste à pressão para confinar Índia enquanto mortes aumentam
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, pediu aos Estados que considerem o confinamento como "última opção", enquanto o número de mortes por covid-19 aumenta e os seus aliados políticos apontam o confinamento como solução para conter o surto.
Depois de, no ano passado, Modi ter decretado um confinamento nacional sem aviso prévio, que espoletou uma crise humanitária com os trabalhadores migrantes a fugirem a pé para as áreas rurais, agora o primeiro-ministro indiano resiste à pressão dos seus aliados políticos e principais líderes empresariais para um novo confinamento, face ao aumento de mortes por covid-19 no país.
Apesar da resistência de Modi, até mesmo Estados governados pelo seu partido, o Bharatiya Janata, estão a ignorar os seus conselhos.
"Um dos problemas é essa falsa narrativa de que ou é um bloqueio total, o que equivale a um desastre económico, ou nenhum bloqueio, que é um desastre de saúde pública", disse à Bloomberg Catherine Blish, especialista em doenças infecciosas e saúde pública.
"O que está a acontecer agora é um desastre económico e de saúde. Se há grandes faixas de população a adoecer, isso não é bom nem para a população, nem para a economia", acrescentou Blish.
Na semana passada, os canais de televisão e as redes sociais na Índia foram inundados com imagens de crematórios superlotados e hospitais desesperados com a falta de oxigénio.
As mortes diárias na Índia diminuíram ligeiramente depois de atingirem um recorde de 3.689 no domingo, enquanto o número de casos diários ultrapassou os 350.000 nos últimos dias.
O Serum Institute of India, o maior fabricante mundial de vacinas, anunciou que vai entregar 220 milhões de doses aos governos federal e estaduais indianos nos próximos meses, o que poderá abranger 8% da população do país.
O Governo central liderado por Narendra Modi vai receber 110 milhões de doses de Covishield, enquanto os governos estaduais e os hospitais vão receber o restante, disse hoje o fabricante com sede em Puneem, numa publicação na rede social Twitter, sem especificar, no entanto, a data de entrega.
"O fabrico de vacinas é um processo especializado, portanto não é possível aumentar a produção de um dia para o outro", disse o presidente executivo (CEO) da Serum, Adar Poonawalla, em comunicado.
De acordo com o responsável, produzir doses suficientes para todos os adultos na Índia "não é uma tarefa fácil".
O país de 1,3 mil milhões de habitantes iniciou, no fim de semana, uma nova fase da campanha de vacinação para abranger todos os maiores de 18 anos, embora algumas regiões indianas tenham indicado ter falta de doses.
O ritmo de vacinação tem sido lento desde o início da campanha, em janeiro, com 157 milhões de doses administradas até agora.
A Índia registou 3.417 mortos devido à covid-19 e 368.147 casos nas últimas 24 horas, anunciou o Ministério da Saúde indiano na segunda-feira.
O país acumulou 218.959 óbitos e 19,9 milhões de casos desde o início da pandemia, indicou a mesma fonte.
Estes dados mostraram uma ligeira descida, pelo segundo dia consecutivo, das infeções, depois de o país ter ultrapassado, no sábado e pela primeira vez, os 400 mil casos diários.
A Índia atravessa uma segunda vaga da doença, que sobrecarregou o sistema de saúde, com escassez de oxigénio e de camas em grandes cidades como Nova Deli.
É agora o segundo país do mundo com mais casos, atrás dos Estados Unidos, e o quarto com mais óbitos, depois dos EUA, do Brasil e do México.