França averigua atos de espionagem dos EUA com suposta colaboração da Dinamarca
O Governo francês vai verificar se altos funcionários de Paris foram alvo de espionagem norte-americana - com a suposta colaboração da Dinamarca - considerando "extremamente grave" caso as informações se confirmem.
O secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Clément Beaune, disse hoje à rádio France Info que a França vai "verificar os dados" que disse serem "potencialmente graves".
De acordo com o secretário de Estado, a investigação francesa vai tentar comprovar se os "dinamarqueses, aliados da França na União Europeia" cometeram erros ou faltas de "cooperação" com os serviços de informações dos Estados Unidos e se os responsáveis políticos europeus "foram escutados".
Clément Beaune acrescentou que a França sabe que "este tipo de eventos pode acontecer" tal como ficou demonstrado com as revelações do ex-agente norte-americano Edward Snowden sobre as práticas da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos.
A televisão pública da Dinamarca DR transmitiu notícias em que cita um relatório interno dos serviços secretos de Copenhaga sobre atos de espionagem da NSA com recurso aos "cabos submarinos na Dinamarca".
Os alvos das escutas norte-americanas foram, de acordo com a DR, a chanceler alemã, Angela Merkel, assim como os candidatos ao cargo da oposição: Frank-Walter Steinmeier e Peer Steinbruk.
Além dos políticos alemães, a notícia refere que também altos responsáveis da França, Suécia e Noruega foram, supostamente, visados, mas cujas identidades são desconhecidas.
Para executar as escutas, a NSA beneficiou da colaboração dos serviços de informações militares da Dinamarca (FE).
A estação de televisão dinamarquesa revelou as informações na sequência de uma investigação jornalística que envolveu a estação sueca SVT, o canal norueguês NRK, os canais alemães NDR, WDR e o jornal Suddeutsche Zeitung, da Alemanha, e o Le Monde, em França.
A ministra dinamarquesa da Defesa, Trine Bramsen, nomeada em junho de 2019, foi informada das escutas em agosto de 2020, de acordo com a notícia da televisão DR.
A ministra disse à estação de televisão de Copenhaga que "a espionagem sistemática exercida por aliados é inaceitável", mas recusou fazer mais comentários nomeadamente à France-Presse.
De acordo com as mesmas notícias, a NSA acedeu às mensagens de texto através de telefones móveis (SMS) assim como a textos trocados através de aplicações de mensagens de telemóvel e a consultas feitas na Internet pelos visados.
Os atos de espionagem da NSA constam de um relatório interno dos serviços de informações da Dinamarca com o nome de código "Operação Dunhammer" tendo sido apresentado à cúpula dos serviços de Copenhaga em maio de 2015, de acordo com a DR.
A estação de televisão dinamarquesa refere que os dados foram confirmados por nove fontes que tiveram acesso às informações classificadas dos serviços secretos de Copenhaga.
O diretor dos serviços secretos da Dinamarca de então, Lars Findsen, recusou responder a perguntas.
Os detalhes sobre o caso de espionagem, caso se venham a confirmar, foi inicialmente revelado em 2013 por Edward Snowden, agente da NSA e que se encontra fugido na Rússia desde o momento em que revelou o sistema de escutas dos serviços de informações dos Estados Unidos.
Em novembro de 2020, a mesma estação de televisão dinamarquesa noticiou que os Estados Unidos usaram os cabos submarinos da Dinamarca para espiarem indústrias de Defesa da Dinamarca e de "outros países europeus" entre 2012 e 2015.