Que marcas deixou a covid-19 nos atletas recuperados?
Diogo Gameiro, Rodrigo Pinho e Elledy Semedo falam sobre o regresso aos jogos após a infecção por SARS-CoV-2
A síndrome pós-covid-19 traduz-se por um conjunto de sintomas e de alterações que é preciso valorizar para tratar e, no caso dos atletas, é fundamental para um regresso adequado à competição.
A recuperação da covid-19 não significa, automaticamente, o adeus a possíveis efeitos no período que se segue e no caso dos atletas de alta competição, as consequências podem impedir um retorno em pleno à actividade.
“O regresso aos treinos e, depois, à competição foi complicado, porque ficava mesmo cansado com pouco esforço. Fazia dois, três campos a uma velocidade moderada e ficava exausto, sentia um pouco de dificuldade em respirar, sentia as pernas presas”, recorda Diogo Gameiro, basquetebolista de 25 anos, que esteve duas semanas infectado, entre final de Março e início de Abril.
Gameiro foi um dos jogadores mais utilizados na equipa do CAB, chegando a ter uma média superior a 30 minutos por jogo, na Liga masculina de basquetebol. Mas, no regresso à competição após ter tido covid-19, o base português mal conseguia estar cinco minutos em campo, devido ao cansaço.
Já Rodrigo Pinho, viveu o sonho durante a primeira volta da Liga, destacando-se entre os goleadores, conseguindo mesmo chegar a acordo com o Benfica, clube que vai representar na próxima época.
Em Janeiro, teve covid-19 e a segunda metade do campeonato ficou marcada por lesões constantes, que impediram o jogador brasileiro de actuar regularmente pelo Marítimo.
“Depois de ter recuperado da covid-19, regressei de imediato à competição e fiquei logo lesionado. Fiz apenas um treino, e depois no jogo, após 15 minutos, magoei-me no tornozelo. Não sei se está relacionado e se é consequência da covid ou da paragem devido à doença, mas nunca tinha tido estas lesões”, confessa o futebolista.
Elledy Semedo, lateral do Madeira SAD, foi um dos jogadores infectados, quando a selecção de Cabo Verde estava no Mundial de andebol, no Egito, em Janeiro, e um surto de covid-19 na equipa levou à desistência da prova, logo após o primeiro jogo.
“Não foi fácil lidar com a parte psicológica, quando temos de retomar a realidade, após ter estado tão perto do sonho [Mundial]”, conta o atleta do Madeira SAD, que no regresso à Madeira manteve-se “isolado no quarto, sem poder contactar com a família, só a ver os filhos à distância, sem poder tocá-los”.
Mas os efeitos não se fizeram sentir apenas ao nível
psicológico. No regresso aos treinos teve de passar “basicamente por um reiniciar de época” e precisou de
mais de 30 dias para se aproximar do seu “ritmo normal.”
Valorizar os sintomas no regresso à competição
Há cada vez mais evidência da existência de sintomas que se manifestam após a doença. A síndrome pós-covid-19 traduz-se por um conjunto de sintomas e de alterações que é preciso valorizar para tratar e, no caso dos atletas, é fundamental para um regresso adequado à competição.
O médico Rui Almeida, pós-graduado em Medicina Desportiva e elemento do departamento clínico do CD Nacional, refere-se a “sintomas pós-agudo, num período relativamente curto, e que se manifestam até às 12 semanas após o episódio, mas que se podem estender por mais tempo, indo até seis meses (crónico)”.
Efeitos respiratórios, cardíacos e psicológicos são os que mais se manifestam, por isso é recomendado que o atleta siga um protocolo de avaliação.
Saiba mais sobre esta avaliação médica no pós-covid-19 e sobre as experiências de Diogo Gameiro, Rodrigo Pinho e Elledy Semedo, na edição impressa do DIÁRIO, desta segunda-feira, 31 de Maio.