Crónicas

Hotelaria à venda na Madeira

A verdade é que de repente um número elevado de camas estão no mercado prontas para mudar de mãos

Nas últimas semanas têm vindo a público várias informações sobre a disponibilidade de vários hoteleiros para vender os seus estabelecimentos na Região. Desde a já repetente Quinta do Lorde e o Hotel da cadeia Riu aos mais recentes Hotéis da Ajuda ou às unidades do grupo Charming Hotels e fala-se também no icónico Hotel do Porto Santo entre outros. No fundo um sinal que o mercado parece querer dar de um certo descrédito na recuperação rápida do Turismo ou tão só de alguma desilusão relativa a esta área. A verdade é que de repente um número elevado de camas estão no mercado prontas para mudar de mãos.

O que me parece preocupante é a quantidade de pequenas unidades ou de hotéis de charme que podem em breve ser adquiridas por grandes grupos e tornar-se mais um produto standard fugindo aos poucos aquele toque de diferenciação que esses mesmos espaços ajudavam a dar à ilha. A Madeira é conhecida pela sua multiplicidade e pelo seu exotismo, pelos seus cantos e recantos mágicos, o contraste entre a natureza mais selvagem e o mar, a vegetação e as florestas únicas. Pelas suas tradições tão apreciadas pelos turistas, a paz, a tranquilidade e a diversidade. Espaços como alguns dos que já referi mas também outros como a Estalagem da Ponta do Sol ou o Socalco Nature Calheta fazem as delicias de quem nos procura e retratam um pouco da imagem que transportamos lá para fora.

Lembro-me, quando o Choupana Hills era notícia nas melhores revistas de hotelaria e arquitetura do Mundo e do que sentiam as pessoas que por lá passaram. Ou mais recentemente de quem ficou marcado pela programação musical da Estalagem e marcava de propósito alguns dias para poder usufruir daquele ambiente. Se o fantástico projecto dos Nómadas Digitais vai entusiasmando tudo e todos devemos perceber que esse deve ser apenas mais um ponto de interesse e um complemento ou uma forma de captar novos públicos e não esquecer aquilo que de facto tornou a Madeira e o Porto Santo tão famosos. E para isso são fundamentais os boutiques, as quintas e quintinhas e todos esses desenhos tão nossos.

Se compreendo que os grupos hoteleiros tentem ter cada vez maiores e mais imponentes espaços acho fundamental não nos deixarmos enredar pelo que já existe noutros cantos do planeta atropelando a nossa essência e as nossas populações. Madeira como já foi assumido, não é um destino de praia e é hoje em dia comunicado como um destino de natureza, de aventura e bem estar. Para que isso não deixe de ser assumido é também importante preservarmos esses projectos tão nossos e que trazem com eles tantos programas maravilhosos que mostram o que é verdadeiramente a nossa terra, os nossos costumes e a nossa cultura. Não o devemos esquecer. É importante, para comunicar a Região não deixar morrer esses espaços que definem tantas das nossas particularidades. É nas emoções e na criação destas relações de pertença que divulgamos o que é nosso.