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Metade das dioceses portuguesas não inclui encíclica ecológica do Papa na formação de padres

Foto EPA
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Metade das dioceses portuguesas não inclui os temas da encíclica "sobre o cuidado da casa comum" no currículo de formação dos futuros padres, segundo os resultados de um inquérito divulgado ontem.

O estudo, promovido pelo jornal digital 7Margens e pela Família Cristã, revela também que nenhuma das 17 dioceses que responderam tem definidas metas ecológicas que foram propostas pelo Papa na encíclica 'Laudato Si' (Louvado Sejas, em português).

O inquérito sobre o modo como a encíclica papal está a ser aplicada pela Igreja em Portugal foi enviado a 37 entidades no início de Maio, a propósito da conclusão do Ano Laudato Si, que terminou na segunda-feira, e dos seis anos de publicação da encíclica ecológica.

A partir das sugestões concretas ou ideias do pontífice, surgiram 34 questões que foram colocadas a 21 dioceses, sete congregações religiosas e nove movimentos e instituições.

Alguns dos resultados mais positivos das 32 respostas obtidas - além dos que assinalam que cerca de 70% dos inquiridos aproveitam as energias renováveis do sol ou do vento - estão relacionados com o desperdício: a maioria das instituições indica que faz alguma separação de lixo, diminuiu o consumo de plásticos de utilização única ou descartáveis (69%), e reduziu o desperdício de água (71%). 

Menos positivos são os dados relativos a compras ou deslocações: apenas 25% compram carne a produtores certificados que não promovem maus-tratos aos animais, 25% revelam que não é uma prioridade a utilização de transportes públicos, bicicleta ou deslocações a pé e 36% indicam que só o fazem pontualmente.

O padre Joshtrom Isaac Kureethadam, responsável pelo setor da Ecologia do Dicastério para o serviço do Desenvolvimento Humano Integral, do Vaticano, afirmou ao jornal 7Margens que este foi um trabalho "muito apreciado" com dados que provam que "os mínimos estão lá".

"A maioria das respostas são na casa dos 50%, e é preciso construir a partir daí", sugeriu, realçando que é necessário ter "estratégias globais, porque fazer ações individuais não será suficiente".

A falta de metas ecológicas não é um exclusivo português, garantiu o padre, razão que levou o Papa a proclamar o Ano Laudato Si, que agora terminou. 

"O Papa disse que o grito da Terra e dos pobres estava a ficar cada vez mais alto e que era preciso voltar a falar da encíclica" depois de o entusiasmo inicial ter passado, explicou.

O responsável do Vaticano sublinhou ainda que é preciso "uma conversão ecológica em ação, mas com uma estratégia definida: ter uma paróquia que se transforma neutra em carbono em sete anos, mas que, ao mesmo tempo, consegue aumentar a espiritualidade, colocar os pobres no centro, mudar estilos de vida...".

A encíclica do pontífice, 'Laudato si' - sobre o cuidado da casa comum", teve como inspiração o "Cântico das criaturas", de São Francisco de Assis, que, em 1979, João Paulo II proclamou padroeiro dos Ecologistas.

Foi a primeira vez que um papa faz uma encíclica às questões ambientais, tendo estabelecido uma "relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta" através da convicção de que tudo está estreitamente interligado no mundo.