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Multiplicam-se as filas em Caracas para acesso aos combustíveis

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As habituais filas junto das estações de serviço em Caracas multiplicaram-se nos últimos dias, com a população a queixar-se de serem precisas várias horas para conseguir abastecer um carro.

"Fiz seis horas de fila para conseguir deitar gasolina no tanque. Saí de casa pela 04:00 horas e já tinha uns 70 carros à frente", disse à Lusa o lusodescendente Manuel Freitas, comerciante de 36 anos.

"Não há como explicar isto de maneira entendível, que depois de trabalhar de segunda a sábado, para poder manter a família, tenhamos de madrugar no domingo porque não há gasolina em várias bombas", acrescentou.

Radicado em Chacaíto (leste de Caracas), o comerciante foi incorporar uma fila na zona sudoeste porque "dizem que aqui é mais fácil e pelas redes sociais avisam quando têm gasolina".

"Já me aconteceu, noutra bomba, fazer várias horas de fila e depois anunciaram que a gasolina tinha acabado. Também [já aconteceu] ninguém avisar que não havia combustível e perdemos o tempo", explicou.

Já Maribel Zambrano, contabilista, "aproveitou" o domingo para tentar a sorte e ver se conseguia gasolina em menos tempo do que noutros dias.

"Acho que aos domingos, cedinho, não é tão complicado como durante a semana, porque muitas pessoas aproveitam para dormir até um pouco mais tarde", disse.

Residente em Bello Monte (sul), afirmou que "mesmo durante a quarentena" por causa da covid-19, "nos dias em que está proibido circular, é mais difícil conseguir gasolina, porque a prioridade são os setores básicos, polícias e transporte de passageiros".

"É um problema que está a transformar-se em cíclico, ou seja, durante um tempo consegue-se combustível um pouco mais fácil e depois volta a escassear, quando há gasolina não há gasóleo e vice-versa", acrescentou.

Maribel Zambrano, de 38 anos, lamentou que os venezuelanos, além de lidarem com a insegurança e com a alta inflação no preço dos alimentos, medicamentos e serviços, tenham constantemente também outros problemas para enfrentar quotidianamente e referiu os apagões na eletricidade ou as dificuldades no abastecimento de água.

Em algumas filas em La Florida (centro-leste de Caracas), a Lusa ouviu queixas de quem tinha uma senha com mais de 100 números à frente e relatos de que os militares que vigiam os postos de abastecimento permitiam a passagem à frente de quem esperava de viaturas que não eram, aparentemente, de setores prioritários.

"Isto é uma prova de que o país está mal, de que há má gestão. Somos produtores de petróleo e temos praticamente de rogar para deitar gasolina, submetidos a uma ordem [governamental] que apenas permite abastecer segundo [o último número] da matrícula e uma vez por semana", disse o motorista Carlos Martínez.

 Além de Caracas, também no interior do país são frequentes as queixas da população de que há cada vez mais dificuldades no acesso aos combustíveis.

A escassez de combustíveis é atribuída, pelo Governo da Venezuela, às sanções impostas pelos EUA, que afetaram, segundo Caracas, a indústria de produção energética, em especial, a refinação.

Já a oposição acusa o Governo de ter "desmantelado" a indústria petrolífera e de ter feito acordos prejudiciais com a China e a Rússia.

Em 01 de junho de 2020, o Governo venezuelano fixou pela primeira vez o preço dos combustíveis em dólares norte-americanos, com subsídios para alguns setores básicos, depois de chegarem à Venezuela cinco navios com combustível proveniente do Irão, uma operação que foi questionada pelos EUA.