Papa diz que os "consolos terrenos" são analgésicos que não curam por dentro
Os "consolos terrenos" são como "analgésicos", porque dão um alívio momentâneo, mas não curam por "dentro", disse hoje o Papa, durante a celebração da festa do Pentecostes, na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Francisco alertou também para o perigo da Igreja cair no "pragmatismo", se colocar os seus projetos à frente das pessoas, durante uma missa concelebrada com 70 prelados, entre cardeais, bispos e cónegos, no dia em que os católicos comemoram a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos.
Na sua homilia, e segundo a agência espanhola Efe, o Papa defendeu a necessidade de viver no presente, superar as divisões e sobrepor o bem comum ao individualismo.
Francisco iniciou sua homilia falando sobre a expressão "Paráclito", que Jesus usa para se referir ao Espírito Santo, numa dupla função, de dar consolo e de advogado.
"Todos nós, especialmente em momentos difíceis como o que estamos a atravessar, procuramos consolo. Mas, muitas vezes, recorremos apenas aos consolos terrenos, que desaparecem rapidamente", disse, comparando-os aos analgésicos, "que dão um alívio momentâneo, mas não curam o mal profundo".
"Fogem, distraem, mas não curam. Acalmam superficialmente, no âmbito dos sentidos e não do coração", afirmou o pontífice.
Segundo Francisco, "o mundo, na prosperidade, consola e elogia, e na adversidade, engana e condena".
"Primeiro elogia-nos e faz-nos sentir invencíveis, depois lança-nos ao chão e faz-nos sentir inadequados. Faz todo o possível para cairmos", acrescentou.
"O Espírito pede-nos que lhe demos forma de consolo. Como? Não com grandes discursos, mas aproximando-nos, não com palavras de circunstância, mas com a oração e proximidade", disse o Papa.
Para o chefe da Igreja Católica, "é tempo do anúncio alegre do Evangelho, mais do que de luta contra o paganismo. É tempo de trazer a alegria do Ressuscitado, não de lamentar o drama da secularização. É tempo para derramar amor sobre o mundo, sem se conformar com o mundanismo. É hora de testemunhar a misericórdia, em vez de incutir regras e normas".
Sobre a obra de "advogado" do Espírito Santo, Francisco afirmou que "ele defende das falsidades do mal, inspirando pensamentos e sentimentos".
"Ele fá-lo delicadamente, sem nos forçar. É proposto, mas não imposto", sublinhou.
O chefe da Igreja Católica apontou ainda três "antídotos básicos" contra as tentações
O primeiro é "viver o presente, não o passado ou o futuro", com as suas "nostalgias" e "incertezas", porque é "o momento único e irrepetível para fazer o bem".
Outro antídoto é "procurar o todo, não a parte", com a primazia da "comunidade" sobre o individualismo. "Não nos vamos concentrar em conservadores e progressistas, tradicionalistas e inovadores, de direita e de esquerda", acrescentou.
O terceiro é "põe Deus antes de ti".
"Não salvamos ninguém, nem a nós próprios com as nossas próprias forças. Se colocarmos em primeiro lugar os nossos projetos, as nossas estruturas e os nossos planos de reforma, cairemos em pragmatismo, na eficiência, no horizontalismo, e não daremos frutos", precisou, sublinhando que a "Igreja não é apenas uma organização humana, é o templo do Espírito Santo".