Euforia
As medidas de apoio relativas ao pagamento da Segurança Social, prolongam-se até quando?
Não consigo aderir a esta espécie de euforia colectiva em torno de uma suposta (que não ainda efectiva) chegada em barda de ingleses que, vistas abertas as comportas, começaram todos a sair daquele que deve ser um horrível país para habitar.
É verdade que se sente um movimento maior ao nível das reservas e que a situação parece melhorar. Mas convém recordar os mais distraídos que passou mais de um ano e que, nesse período, as empresas não tiveram receita nem apoios que acompanhassem as decisões tomadas pelos responsáveis governamentais, de aqui e além-fronteiras.
Passar de uma ocupação média de 10% para 30% ou 40% não resolve problema nenhum e agrava a situação de um sector que, neste momento, se encontra completamente exaurido, quer do ponto de vista financeiro, quer inclusivamente emocional.
Não é fácil para ninguém chegar ao seu local de trabalho (desconto os que nem isso faziam, porque algumas empresas fecharam) e não ter nada que fazer. Quem tem o mínimo de responsabilidade, sabe que não é uma situação sustentável e que nenhuma empresa aguenta muito tempo sem clientes.
Chegados aqui, não podemos deixar instalar-se mais uma irresponsabilidade. A de acharmos que ultrapassámos a tormenta e que estamos de volta ao normal. Por mais que se melhore, estamos longe, muito longe, da solvabilidade.
Perdemos imenso tempo sem tocar em aspectos fundamentais. Hoje temos mais problemas e menos capacidade para os resolver. Com as poupanças esgotadas e a capacidade de ir buscar financiamento a níveis próximos do zero, no sector privado, como poderemos seguir em frente?
Para a semana, voltamos a prever constrangimentos no aeroporto; o que foi feito em termos de plano de contingência? O que sei é que a solução mais consensual – utilização de um transporte marítimo rápido entre o Porto Santo e o Caniçal – nem sequer foi estudada e não consta de nenhum plano de investimento. Às tantas arranjam um para-vento em betão e está feito…
O Plano Estratégico (não utilizei o plural para poupar caracteres) continua sem ver a luz do sol e é igualmente olimpicamente ignorado em qualquer documento ou fórum de discussão sobre o nosso futuro. Esqueceram-se que existe?
Produto, mercados, promoção, acessibilidades; tudo desapareceu levado pelo Covid, quando devia ter sido aproveitada a suspensão de actividade decretada para estudar e implementar medidas que o tempo normal muitas vezes não permite.
Ao dia que escrevo, nem o curto prazo se conseguimos prever. As medidas de apoio relativas ao pagamento da Segurança Social, prolongam-se até quando? As moratórias, vão ser estendidas ou, acabando em Setembro, serão a machadada final do esforço gigantesco de empresas, empresários e colaboradores?
Este é o meu receio em relação a este discurso excessivamente optimista. Que, como tantas vezes aconteceu, se perca o foco e sobretudo a noção. E que se acabe de vez com um sector que tanto deu à Região e que tanto ainda pode dar.