Os jardins públicos do Funchal
Desde o ano passado que tenho presenciado que um indivíduo, ligado à pedincha e ao mundo da
toxicodependência, após as suas quotidianas deambulações pelos cafés do Funchal, a pedir dinheiro para alimentar o vício, dirige-se aos jardins públicos e colhe as flores que os embelezam. A primeira vez que presenciei que este individuo cuja alcunha é o “machiqueiro”, recorria a este modus operandi, chamei-o à atenção, mas o indivíduo não se intimidou e logo inferi que este procedimento já era prática recorrente. Uma outra vez, quando me encontrava sentado num café com familiares e amigos, em frente ao Jardim Municipal, este indivíduo sem vergonha, trazia novamente um ramo de estrelícias, acabado de colher, e procurava vendê-lo aos transeuntes e às pessoas que se encontravam no café. Revoltado e como cidadão que ama a sua cidade, que gosta de ver os jardins floridos, e também para gáudio dos residentes e turistas, não hesitei em dar-lhe mais uma descompostura e até o fotografei com o ramo de estrelícias na mão. Como não tenho conta no Facebook, uma familiar predispôs-se a postar no dela, a fim de alertar os cibernautas para não comprarem flores a este indivíduo, a ver se ele abandonava esta práxis. Tal é o meu espanto, quando vim a saber que uma senhora detentora de um cargo de nomeação na administração pública regional, veio em defesa do mesmo e condenou a minha familiar por ter feito o alerta. Para o cargo que ocupa, não lhe fica nada bem defender a marginalidade! Não querendo ser advogado de ninguém, tenho a certeza que o Presidente do Governo, gostando de flores como é sabido, seria perentório em condenar tão vil ato. Perante a contestação da dita senhora, a minha familiar acabou por retirar a postagem. Mas a mim nada me amedronta, nem as ameaças do indivíduo, nem as reações de quem, lamentavelmente, pactua e defende estas situações.
Estes indivíduos recebem apoio alimentar das instituições de solidariedade social, e até das autoridades competentes, mas muitas vezes renegam algumas dessas ajudas porque não querem submeter-se a regras e pretendem levar uma vida de libertinagem. Não são todos, mas muitos preferem seguir esta via. Tudo tenho feito para que as entidades competentes, a quem compete zelar pela integridade física dos cidadãos, pela ordem pública e bens públicos, alguma vez tenham a “ gentileza” de atuar. Algumas vezes que tenho visto este indivíduo colhendo, com uma navalha, as flores do jardim, tenho contactado telefonicamente o Comando da PSP, mas LAMENTAVELMENTE, só no dia 18, do corrente mês, ao ver que novamente estavam a ser colhidos os malmequeres brancos do Jardim Municipal, dirigi-me ao agente da PSP, que se encontrava de vigilância a uma relojoaria da zona, pedindo que comunicasse com os seus colegas, a fim de agarrarem o indivíduo em flagrante. Felizmente, foi a primeira vez que, perante a minha denúncia e pedido, compareceram no Jardim Municipal dois agentes de bicicleta! Embora o indivíduo já tivesse abandonado o espaço com um grande ramo de malmequeres, finalmente acabaram por responder ao alerta, marcando a sua presença! Louvo muitos dos agentes da PSP que conheço e outros que até hoje contactei pelo seu profissionalismo, mas não posso deixar de referir, que em relação a este assunto, algo está a falhar. Esta situação já foi abordada por este matutino, num excelente trabalho jornalístico da autoria da jornalista Andreína Ferreira, no pretérito mês de outubro.
No entanto, a situação continua porque ninguém faz nada! Inclusive há mais de um mês que me dirigi ao Comando da PSP para apresentar uma denúncia contra este indivíduo, por se tratar de um crime público, mas até hoje, nada sei sobre as “démarches” do processo. Fiz alusão à navalha que o mesmo anda munido e que recorre para proceder ao corte das flores. Noutros tempos, procediam a uma revista e retiravam a navalha. Mas agora pelos vistos, tudo é permitido! É a democracia que nós temos e a onda de permissividade que paira na sociedade atual. Não posso deixar de referir que, por duas vezes, alertei pessoalmente o Sr. Presidente da Câmara para esta situação. Até foram-lhe facultados, uma foto e um pequeno vídeo com o indivíduo em flagrante. Não duvido que tenha alertado o Comando da PSP para este caso, mas no seu lugar, não descansaria enquanto não visse solucionada esta anormalidade. É a defesa da cidade, o seu património natural que está em jogo e que há que preservar e defender! Há também que ter consideração e valorizar todo o esforço e dedicação, dos jardineiros para deixarem os jardins aprimorados e floridos. Além disso, os turistas que nos visitam, adoram ver os nossos jardins floridos e deliciam-se em os fotografar. Não vêm só ver as folhas, como é o caso das estrelícias que raramente se vê uma flor! Porque pelo que já aqui foi dito, as flores são para estes delinquentes obterem dinheiro para alimentarem o vício! Os leitores que circulam pelos nossos jardins podem, in loco, confirmarem se há muitas plantas de estrelícias floridas. Até, segundo me confidenciaram, já nem os agapantos do jardim da Praça do Povo escapam às mãos devoradoras deste delinquente. Perante este modus vivendi, em que quem prevarica anda impune, estou a pensar seguir a moda atual e também constituir uma associação para a defesa da Cidade do Funchal. Além de uma cidade com história, o seu património natural também urge ser preservado. Apoiantes e colaboradores, de certeza que não irão faltar. Porque tal como eu, sei que há muita gente que felizmente também ama e quer sentir-se bem na sua cidade!
José João Pereira