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Será que não precisamos dos imigrantes?

Relembro uma tese de Doutoramento da qual fui arguente na Universidade de Strathclyde, na Escócia, em 2012, onde a doutoranda tinha estudado a necessidade de trabalhadores para cuidarem dos mais idosos e tinha posto como hipótese as pessoas logo após se reformarem se voluntariarem para os ajudar. A conclusão a que chegou era que mesmo com este apoio, havia a necessidade de ter largos contingentes de imigrantes para os mais idosos serem bem cuidados. Mesmo com projeções muito otimistas em relação à natalidade, não se conseguia satisfazer as necessidades de mão-de-obra só com os trabalhadores nacionais.

Apesar de o estudo ter sido feito para a Escócia, acredito que a maioria das regiões da Europa estão numa situação semelhante, ou seja, não têm mão-de-obra nacional disponível para as necessidades que uma população envelhecida acarreta.

O caso dos nossos emigrantes que foram e estão no Reino Unido a cuidar de idosos mostra bem a necessidade que existe e, contrariamente ao que é costume ouvir dizer que a população nacional não quer fazer esse tipo de trabalho, a realidade é que não existe população local para o fazer. Preciso que fique bem claro que os imigrantes não estão a roubar o emprego dos nacionais!

Por outo lado, existe consenso nos estudos que mostram que os imigrantes são benéficos para os países que os acolhem. Como se pode ler na publicação da OCDE “Migration Policy Debates” de 2014, os imigrantes têm efeitos positivos no crescimento económico porque 1) aumentam o peso da população ativa na população total, diminuindo o indice de dependência; 2) trazem novas competências e contribuem para o aumento de capital humano do país; e 3) contribuem para o progresso tecnológico.

A pandemia veio mostrar a todos as condições sub-humanas dos imigrantes que trabalham no Alentejo, esquecendo de mostrar o papel positivo que têm para a economia nacional através da exportação dos produtos que produzem e para a economia local que dinamizaram.

Nada justifica as condições em que vivem e há que reforçar a fiscalização para que estes imigrantes não sejam privados da sua dignidade. É importante que se sintam bem, que consigam ir melhorando a sua vida e sintam a alegria de verem os seus filhos com mais educação e um futuro melhor. O bom acolhimento é uma responsabilidade das sociedades que os recebem e não é um problema apenas do Estado, mas sim um problema de todos.

Se é verdade que os imigrantes precisam de nós, não é menos verdade que nós precisamos dos imigrantes.