Os ataques pessoais nas campanhas eleitorais
O que é certo é que não são poucas as vezes em que se passa dos limites e se atingem proporções que deixam marcas, que vão muito para além dos candidatos
Está prestes a chegar mais uma concorrida campanha eleitoral para as Autárquicas, cá em Portugal. E com ela o hábito dos ataques pessoais e da difamação feroz. Talvez porque a sociedade ainda não está suficientemente educada para privilegiar campanhas positivas e para sancionar as negativas, ou porque estamos pouco habituados a discutir programas ( porque muitas das vezes eles não são cumpridos ), ou ainda porque faltam ideias para sobressair e no desespero qualquer coisa serve para tentar rebaixar os outros. O que é certo é que não são poucas as vezes em que se passa dos limites e se atingem proporções que deixam marcas, que vão muito para além dos candidatos. Sofrem as famílias, enervam-se os amigos e destrói-se uma reputação que demorou muitos anos a conquistar.
Talvez fosse bom olharmos um pouco para o que se passa noutros países como a Suécia. Bem sei que somos latinos e temos outra forma de nos expressar mas não custa nada aprendermos alguma coisa com quem faz as coisas direito. Bem, para começar por lá exigem-se demissões pela simples razão de se comprar um lápis para uso pessoal com dinheiro público. Logo não há tendência para a corrupção nem esses casos são levados com ligeireza. Depois porque por lá impera o respeito à opinião de quem pensa de outra forma. As campanhas são mais focadas em projectos de governação. No fundo existe um respeito comum pela democracia. Em eleições locais, pelos parcos orçamentos não é incomum de ver diferentes partidos a emprestar material aos outros, como megafones e carrinhas ( sim, por cá isso seria um absurdo ).
Na Suécia por exemplo todos os posters eleitorais devem ser retirados das ruas num prazo máximo de dois dias após a votação. Os políticos sabem inclusivamente que se deixarem os cartazes pendurados após essa data, sujando a paisagem da cidade, vão ser realmente punidos pelos eleitores nas eleições seguintes. Por cá é a vergonha que se sabe. Ficam meses, às vezes anos, até ficarem amarelos ou caírem aos pedaços. Mas o mais assustador é mesmo esta forma de querer achincalhar o outro, muitas vezes socorrendo-se de estratégias ardilosas que visam atingir onde dói mais, penso que pelo prazer de ver o outro exposto ao deboche em plena praça pública. Contratam-se equipas para identificar meticulosamente qualquer ponta solta e carrega-se desenfreadamente sem ter em conta que também eles têm pais, filhos, emprego e vida pessoal.
O Bispo do Funchal Nuno Brás, apelava há dois anos para que a campanha fosse “tempo de civilização”. Com a efervescência das redes sociais e com a ganância do poder julgo que isso é por ora impraticável. Mas se calhar seria tempo de cada um de nós fazer um exame de consciência e começar a não compactuar com este tipo de situações. A sancionar quem faz do ataque pessoal a sua forma de campanha e passar a privilegiar quem vem por bem. Quem apresenta ideias e soluções. Mesmo que de outros partidos que não o nosso. Está na altura de olharmos mais para as pessoas e para os seus comportamentos ao invés da cor da camisola. Porque o reflexo da sua postura na campanha é um espelho do que virá a seguir se conquistarem o poder. E nós temos que ser exigentes quando se tratar de escolher a nossa representação.