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Não são só os meninos

A verdade é que o preconceito contra as mulheres continua tão vivo na mente de muitos, tal como na era primitiva

Recentemente tivemos uma polémica à escala mundial, por causa de um simples lugar protocolar. Relegar uma mulher ao sofá só por ser mulher, enquanto os restantes participantes assumiam lugar de destaque em posição central, veio dar origem ao incidente SOFAGATE. A maior parte dos leitores poderão pensar “que idiotice e mesquinhez dar tanta importância e fazer disto uma polémica de proporções mundiais, quando há coisas muito mais importantes que um lugar de cadeira ou sofá”. Comecei a pensar profundamente no papel da mulher numa era chamada de civilizada e que arvora ser defensora da igualdade de oportunidades entre géneros, que diz que luta contra discriminações e o preconceito.

Depois comecei a lembrar-me de acontecimentos que se foram passando no contexto atual. Ainda me lembro como Cláudia Aguiar, a nossa Eurodeputada, foi atacada de forma impiedosa por ter faltado a algumas sessões, fruto da sua maternidade. Houve quem clamasse nas redes sociais qualquer coisa do género “se queria ser mãe não devia ter sido candidata” ou “se foi mãe devia dar lugar a outro”. De forma preconceituosa, atribuímos este tipo de comentários a pessoas com baixo nível cultural ou de escolaridade, mas desenganem-se, assisti a serem ditas por homens e mulheres, supostamente bem esclarecidas e que apregoam a liberdade e a justiça social, mas que demonstraram, na verdade, o seu baixo nível moral e social. A verdade é que este tipo de atitudes não se mede pelo nível de escolaridade ou pelo estatuto social, mas sim pelos valores e princípios que cada um adquiriu ao longo da sua vida, e muito pela educação que teve no seio familiar sem discriminação de “riqueza ou pobreza” ou mesmo de género. Que paradoxo civilizacional.

Não deixo de pensar, igualmente, em mulheres no sector público e privado que perderam as suas posições sem dó nem piedade, cujos superiores (homens e, pasmem-se, até mulheres) rapidamente se esqueceram dos anos de dedicação com lealdade e alto profissionalismo, descartando-as rapidamente, simplesmente porque engravidaram e, momentaneamente, poderiam ter algumas limitações no desempenho das suas funções.

Ora, o discurso político do sector público e o politicamente correto do sector privado não passam de mera ilusão pois quando chega a hora da verdade, numa era onde se pode fazer uso das novas tecnologias e, com mecanismos de apoio com um reforço provisório de recursos humanos que poderiam facilmente ultrapassar qualquer constrangimento, continua a ser mais fácil por na “rua” este ativo mulher, mesmo que o resultado sejam os danos a nível organizacional, de produtividade e de desempenho com a mudança.

A verdade é que o preconceito contra as mulheres continua tão vivo na mente de muitos, tal como na era primitiva e séculos passados, mas o mais chocante é que, muitas vezes, é alimentado e exercido por outras mulheres.

Costumamos dizer que em casa, as mães têm um papel preponderante na educação dos rapazes, de forma a operarem uma mudança de comportamentos e atitudes no que diz respeito à forma como tratam as mulheres ao longo da vida. Hoje, com outra lucidez e com os exemplos gritantes de acontecimentos que me deixam perplexas vou muito mais longe.

Que no dia de hoje, todas as mães reflitam sobre a educação dos seus meninos e MENINAS, que tanto rapazes e raparigas devem ser educados para o respeito pela maternidade/paternidade, pela igualdade de oportunidades e contra a discriminação de género. Que o respeito não tem género, que a educação é um pilar para todos.

Hoje é o dia da mãe, os dias de todas as mães que são realmente mães, que nunca se esqueceram que foram mães, que lutam todos os dias e que centram todos os seus esforços em fazer as crianças, os seus filhos e filhas felizes.

A minha mãe já não está neste mundo, com certeza estará num sítio a olhar por mim e pelos meus, sei-o de coração porque ainda hoje sinto a presença do seu amor.

Hoje é o dia da Mãe.