Recuperação das aprendizagens e da formação integral
Conhecendo o processo ensino-aprendizagem, bem como os ritmos, as dinâmicas e as dificuldades individuais dos(as) alunos(as), não deveria haver dúvidas de que o ensino à distância não seria capaz de garantir a todos e a todas, em situação de igualdade, o acesso às aprendizagens e muito menos o desenvolvimento integral da pessoa nas suas diversas dimensões: intelectual, física, social e cultural.
Os estudos publicados em Portugal e em grande parte da Europa vieram comprovar esta realidade. Este sistema, imposto pelas circunstâncias criadas pela pandemia da Covid-19, estava definido, sim, mas como a alternativa possível de manter os(as) alunos(as) ligados(as) aos estudos e a alguns dos conteúdos programáticos, uma tentativa de dar continuidade a uma espécie de rotina das aulas, procurando manter um vínculo aos(às) professores(as) e às atividades escolares.
Ao promoverem publicamente apenas os casos de sucesso e ocultarem todos os outros, que são a maioria, houve uma tentativa de criar a ideia da normalização do ensino à distância e da “telescola”, como se estivéssemos perante um novo modelo de ensino inquestionável. Da mesma forma que será necessário desmitificar a noção errada de que o investimento na transição digital da escola significa regularizar um ensino à distância. Não, não é.
As ferramentas da era tecnológica e digital, sempre colocadas ao serviço das aprendizagens e de uma educação holística, vieram para ficar, sem dúvida, é mais uma oportunidade para repensar o modelo da escola de hoje, desenvolvendo a renovação pedagógica e criando ambientes educadores inovadores, dentro e fora dos muros das salas. Terão um papel importante na criação de novas metodologias de trabalho mais interativas, diferenciadoras, e mais autonomizantes. Todavia, convém lembrar que este processo de transição só fará sentido numa escola em regime presencial, porque a escola não pode deixar de funcionar como uma âncora social para uma grande maioria dos(as) nossos(as) estudantes. As aulas em regime presencial são insubstituíveis também no papel da socialização, na interação dos diversos estratos sociais, no contacto direto, na discussão e tensões próprias do crescimento inteiro das crianças e dos(as) jovens.
A pandemia da Covid-19 já causou demasiados constrangimentos, em todos os níveis da sociedade, deixando marcas que levarão um longo tempo a ultrapassar. Porque nesta área da educação as consequências também são enormes, os diversos agentes educativos deverão definir plataformas de cooperação, trabalhando na construção de propostas que respondam às necessidades e ambições, presentes e futuras, destas crianças e jovens, de modo a evitarmos o agravamento do abandono precoce dos percursos de educação e formação. Não nos podemos esquecer de que, na Madeira, 10 800 jovens com idades entre os 15 e os 34 anos não se encontram empregados nem frequentam qualquer oferta de ensino, formação ou estágio.
As perdas, no âmbito do currículo, das competências, da saúde física, bem como do foro emocional, social, cultural e cognitivo, têm de ser trabalhadas e recuperadas de forma integrada, na escola, através das melhores respostas e de um reforço substancial dos recursos e de uma autonomia sustentada com os meios necessários para agir.
Não obstante, estas vastas carências não se resolvem com o aumento de horas letivas aos(às) estudantes nem com o agravamento de burocracias para os(as) professores(as). Mais do mesmo não. Torna-se necessário repensar o paradigma educativo e apostar, por exemplo, na generalização das tutorias, dos pares pedagógicos, em modelos de aulas fora da escola e na redução do número de alunos(as) por turma. Investir em mediadores sociais, repensar em novas práticas de sala de aula, em projetos promotores de aptidões, entre tantas outras medidas educativas, procurando o desenvolvimento integral de todos e de cada um.