O palheiro
Assisti pela TV ao depoimento de Luís Filipe Vieira (LFV) na Comissão de Inquérito da AR sobre o Novo Banco (NB). Como previsto nada de novo e relevante trouxe o referido depoimento. A bancarrota do BES deveu-se aos seus administradores que através de uma “gestão” inqualificável centrada nos seus próprios interesses pessoais escudados no prestígio do banco, em detrimento de uma gestão empresarial focada nos interesses do BES, dos investidores, dos depositantes e do País, com emissões de dívida que foram autênticas “falcatruas” baseadas em informações contabilísticas deturpadas, ao mesmo tempo que levavam a cabo inúmeras negociatas intermediadas por 3.ºs fossem empresas ou indivíduos da estirpe de LFV, que lhes renderam milhões em prémios e comissões. No seu depoimento LFV acabou corroborando as suspeitas quanto às “negociatas” em que ele e as suas empresas se envolveram com o BES, sacando milhões em crédito sem nunca pagar um tostão que fosse fruto de sucessivas reestruturações das dívidas. Quando tanto se fala agora do fim das moratórias de crédito por força da pandemia e de como empresas e particulares poderão ser arrastados para uma situação catastrófica se a Banca não tiver o bom senso de encontrar soluções que permitam reformular as dívidas prorrogando-as de modo a que os valores dos reembolsos sejam compatíveis com a capacidade de pagamento dos devedores, fica ainda mais evidente o autêntico escândalo que representa o tratamento desde sempre dispensado a LFV e a vários outros “espertalhões” da mesma igualha que se locupletaram com o dinheiro de depositantes e investidores do BES e de outros bancos que tiveram igual destino. Tudo isto se passou perante a complacência das autoridade do BP e da CMVM. A tentativa torpe de se servir do Benfica para desviar atenções das suas manigâncias deveria custar-lhe de imediato o cargo que exerce no clube. A única novidade do depoimento de LFV foi que o único bem pessoal que o NB lhe penhorou foi um palheiro.
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