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Jornal El Nacional promete continuar a informar apesar do embargo

Foto site El Nacional
Foto site El Nacional

O diário El Nacional, um dos mais antigos da Venezuela, anunciou que "não desaparecerá" e continuará a informar os venezuelanos, um dia depois de um tribunal de Caracas executar uma medida de embargo contra o diário.

O embargo teve lugar na sequência de uma sentença que obrigava o jornal a pagar 13,3 milhões de dólares (11 milhões de euros) por "danos morais" ao ex-presidente da extinta Assembleia Constituinte, Diosdado Cabello, tido como o segundo homem mais forte do chavismo.

"Apesar dos desejos do ex-presidente da Assembleia Constituinte, o El Nacional continuará a cumprir o seu dever de informar os venezuelanos através de todos os mecanismos que estiverem ao seu alcance", explica o editorial com o título "Não vamos a desaparecer".

O diário diz que o valor a pagar por um delito que não cometeu "é absurdo" e descreve cronologicamente os acontecimentos e diz que a sentença tem sido questionada por individualidades e organismos nacionais e internacionais.

"Todo o poder com vocação totalitária se baseia na prática e na projeção do terror. Para se manter, a ditadura desenvolve práticas cujo objetivo é gerar, entre os cidadãos, um estado de medo permanente e intenso", explica.

O El Nacional prossegue afirmando que "se criam organismos ou pervertem os existentes, para que persigam, detenham, torturem e assassinem os que se lhe opõem".

"O terror, historicamente, tem feito uso alternativo e combinado da violência verbal e física, dos tribunais e da propaganda. Mas não basta que haja estruturas policiais ou paramilitares que atuem fora da lei, faz falta o homem-terror, que dá ordens, ameaça, o responsável por fazer que ninguém esqueça que o poder pode fazer tudo, se assim o desejar", afirma.

Por outro lado, numa entrevista publicada na página web, o diretor do diário, Miguel Henrique Otero, diz que foi vítima de "um assalto" por parte de militares "sem nenhum procedimento válido legal".

"Apresentaram-se uns oficiais, uns soldados, tomaram conta do edifício, e tiraram todas as pessoas que estavam no prédio com uma ordem arbitrária. Aproximadamente 60 pessoas foram desalojadas com armas longas (...) É como um assalto", afirma.

Entretanto, o embaixador dos EUA para a Venezuela, James Story, condenou o embargo que, diz, "não é a toma de um edifício, é uma violação da liberdade de imprensa".

Segundo Julie Chung, subsecretária de Assuntos do Hemisfério Ocidental dos EUA, é uma "violação" cuja "responsabilidade recai diretamente no regime".

Entretanto, economistas, empresários, intelectuais, historiadores e membros da sociedade civil venezuelana têm expressado, segundo a imprensa local, "solidariedade" com o diário.

O El Nacional foi fundado há 77 anos e em finais de 2018 deixou de circular impresso, funcionando unicamente através da página web, devido a dificuldades para importar papel para a sua impressão.

Segundo a imprensa venezuelana, a sentença contra El Nacional, por 13,3 milhões de dólares (11 milhões de euros) foi determinada pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e datada de 16 de abril de 2021.

Num comunicado, divulgado em abril, o El Nacional explica que tudo surgiu por ter publicado "informação divulgada pelo jornal ABC, de Espanha", com o qual não tem relação, e que se limitou "a reproduzir informações divulgadas por Leamsy Salazar [guarda-costas de Diosdado Cabello]", que foram também divulgadas pelo jornal norte-americano The Wall Street Journal, em mais de 80 meios de comunicação e pelas principais agências internacionais.

O El Nacional acusa "todas as instâncias judiciais" venezuelanas de não ouvirem os seus argumentos" e adverte para "uma expropriação encoberta", através da qual Diosdado Cabello "se tornaria o dono e editor".

"Não conseguiram comprar a nossa empresa utilizando fundos públicos, não conseguiram subjugar-nos com ameaças, atropelos e ações judiciais de toda índole. Não conseguiram submeter a nossa linha editorial", afirmou.

Segundo o El Nacional "foi repetidamente oferecido um direito de resposta" que o acusador "não quis usar".