Recepção ao Sporting na Câmara de Lisboa sem adeptos
A equipa de futebol do Sporting, que se sagrou campeã nacional na terça-feira, vai ser recebida no dia 20 na Câmara de Lisboa sem a presença de adeptos na Praça do Município e ruas adjacentes, anunciou hoje a autarquia.
"Tendo em conta os acontecimentos da noite passada, a Câmara Municipal de Lisboa decidiu alterar os moldes em que se vai processar a receção e homenagem nos Paços do Concelho ao campeão nacional de futebol - esse sim, um evento organizado pela autarquia", revela a Câmara liderada por Fernando Medina (PS), em comunicado.
Assim, ao contrário do que é tradição, "não será permitida a presença de adeptos na Praça do Município, bem como nas praças e ruas adjacentes, estando a cerimónia reservada a convidados e atletas do Sporting Clube de Portugal (em especial das escolas do Sporting), bem como aos órgãos de comunicação social".
A autarquia "lamenta os acontecimentos e imagens de violência da noite passada, atos isolados provocados por alguns grupos de adeptos, no contexto de uma grande celebração desportiva de um clube da cidade".
"Estas atitudes mancharam, infelizmente, o comportamento cumpridor de largos milhares de pessoas que respeitaram as regras sanitárias e as recomendações das forças de segurança", considera a Câmara de Lisboa.
Durante os festejos, milhares de pessoas concentram-se junto ao estádio do clube, no Campo Grande, quebrando todas as regras do estado de calamidade em que o país se encontra devido à pandemia de covid-19, em que não são permitidas mais de dez pessoas na via pública, nem o consumo de bebidas alcoólicas na rua.
A maioria dos adeptos não cumpriu também com as regras de saúde publica ao não respeitar o distanciamento social, nem o uso obrigatório de máscara.
A PSP anunciou hoje que deteve três pessoas, identificou outras 30 e apreendeu 63 engenhos pirotécnicos durante os festejos da equipa.
No comunicado, o município refere que é tradição dos clubes da cidade organizar festejos no Marquês de Pombal, pelo que, apesar da pandemia, a "aglomeração espontânea de pessoas era muito provável" e "colocava particulares desafios ao clube campeão e às autoridades de saúde e forças de segurança".
A Câmara lembra que não há neste momento em vigor "qualquer limitação horária ou outra à circulação das pessoas em espaço público" e destaca que "nas reuniões preparatórias do evento a preocupação de todos os presentes foi diminuir o previsível afluxo de pessoas a um ponto único: a praça do Marquês de Pombal".
"É nesse contexto que surge a solução de levar os jogadores num autocarro aberto, em contacto com os adeptos ao longo de um percurso de seis quilómetros entre o estádio e o Marquês de Pombal", acrescenta.
Também com o objetivo de diminuir a concentração de pessoas num único local foi decidido "não permitir a montagem de um palco, ao contrário do que sempre aconteceu em anos anteriores, na praça Marquês de Pombal".
O município afirma ainda que "recebeu comunicação de manifestação junto ao estádio de Alvalade, que remeteu, conforme a lei, para a PSP", realçando "que o direito de manifestação não está (e não pode estar) sujeito, nos termos da Constituição, a qualquer autorização ou condicionamento por parte das câmaras municipais".
O Sporting sagrou-se na terça-feira campeão português de futebol pela 19.ª vez, 19 anos após a última conquista, ao vencer na receção ao Boavista, por 1-0, com um golo de Paulinho, aos 36 minutos, em jogo da 32.ª jornada da I Liga.
Hoje à tarde, o candidato à Câmara de Lisboa Carlos Moedas (PSD) acusou o presidente da autarquia, Fernando Medina (PS), de ter falhado na organização dos festejos.
Em declarações aos jornalistas esta manhã, em Arcos de Valdevez, no distrito de Viana do Castelo, o Presidente da República considerou que "quem deve prevenir" aglomerados de pessoas como os dos festejos do Sporting, em Lisboa, "não conseguiu prevenir", esperando que tal "não tenha custos" para a saúde pública em breve.
O primeiro-ministro, António Costa, adiantou, entretanto, que o Governo pediu à Inspeção-geral da Administração Interna a abertura de um inquérito à atuação da PSP nos festejos do Sporting como campeão nacional de futebol.
"Relativamente aos eventos de ontem [terça-feira], o senhor ministro da Administração Interna já teve ocasião de fazer um despacho, primeiro solicitando à PSP informações sobre como tinha sido articulado todo o planeamento com o conjunto das entidades envolvidas, desde o Sporting Clube e Portugal à Câmara Municipal de Lisboa e à Direção-geral da Saúde, e solicitando à Inspeção-geral da Administração Interna um inquérito à atuação da Polícia de Segurança Pública naquele contexto de ontem", afirmou António Costa.