Madeira

O testemunho de dois enfermeiros madeirenses neste Dia Internacional da classe

Foto DR
Foto DR

Assinala-se hoje o Dia Internacional do Enfermeiro. Na Madeira, são pouco mais de 2.387 os profissionais (número de Dezembro de 2020) que se distribuem pelos sectores público, privado e social.

E se no passado era uma profissão de mulheres (com 1.656 profissionais), hoje são já 735 os homens que, na Região, resolveram abraçar a causa da enfermagem.

O DIÁRIO, para assinalar a efeméride, falou com dois enfermeiros. Manuel Freitas, enfermeiro há 29 anos, e que, depois de ter passado por vários serviços públicos, assumiu a direcção de enfermagem da Casa de Saúde São João de Deus. E Cláudia Silva, na profissão há 12 anos, sempre ligada aos cuidados de saúde primários, no Centro de Saúde do Monte, os últimos dos quais como especialista em saúde comunitária. Desde o ano passado é vice-presidente da secção regional da Ordem dos Enfermeiros.

Manuel Freitas já passou por muito na profissão, viveu situações felizes e outras nem tanto, uma experiência que lhe permite colocar-se no “papel de aliado” das pessoas que, por diversas razões, se vêm a braços com uma “condição de saúde que surge em determinados momentos”. Aqui, o enfermeiro deve ser capaz de ajudar na “gestão dessas condições de saúde que surgem”, dá conta.

“É um crescimento, quer a nível pessoal, quer em termos profissionais, e um crescimento conjunto com várias pessoas, com as quais nós, enquanto profissionais de enfermagem, nos vamos cruzando ao longo da vida”. Manuel Freitas, enfermeiro

Aos elevados níveis de exigência emocional junta-se a exigência técnica, embora, a cada ano que passa, Manuel Freitas tenha uma maior consciência das suas limitações. “É o resultado de vários anos de trabalho”, aponta, dizendo que com conhecimento vem, também, a capacidade crítica e a “consciência do quanto é complexo cuidar bem dos outros, o quanto é complexo dar a melhor resposta em cada momento”.

“Nós no início, quando acabamos a nossa formação de base, temos a ideia de que uns peritos, já estamos capazes, estamos habilitados, temos um título, mas a verdade é que não é bem assim”, ri-se. E acrescenta que “todos os momentos são momentos únicos, tanto para nós enfermeiros, como para a pessoa que está a vivenciar a situação e que nós estamos a tentar apoiar na gestão dessa condição”.

E embora as técnicas possam ter sido aprimoradas aos longo dos tempos, Manuel Freitas defende que a essência da profissão continua a mesma. “Os principais instrumentos do enfermeiro estão relacionados com os órgãos dos sentidos.  O tacto, a capacidade de observação, a capacidade de escuta. Naturalmente que os meios que temos ao nosso dispor são melhores para podermos exercer melhor a nossa profissão”, garante.  

Defendendo que a doença diz muito pouco ao enfermeiro, Manuel Freitas vê na forma como a doença afecta as várias actividades da vida de uma pessoa o principal foco da sua profissão.

Quem também diz abraçar a profissão com um sentido de missão é Cláudia Silva. A enfermeira que actualmente exerce no Centro de Saúde do Monte, diz que os cuidados de saúde primários permite trabalhar em vários focos de intervenção e atenção e diferentes público-alvo. 

"Nós não prestamos cuidados apenas às pessoas doentes, mas também às pessoas saudáveis. e muito do nosso trabalho passa pela promoção da saúde e a prevenção da doença", refere, dando conta de que daqui advêm elevados ganhos para a sustentabilidade de qualquer sistema de saúde. 

Procurando sempre uma melhoria contínua, uma parte da aprendizagem resulta da interacção com os utentes. Cláudia Silva acredita que esses conhecimentos acabam por melhorar a forma como a comunidade encara a sua saúde.

E apesar das mudanças, não deixa de salientar que a essência da profissão é sempre a mesma. A enfermeira destaca, aqui, os valores ligados à própria deontologia profissional, de entre os quais destaca: a igualdade; a liberdade responsável, com a capacidade de escolha, atendendo ao bem comum; o altruísmo e solidariedade tão premente nesta actual fase de pandemia; e a competência e aperfeiçoamento profissional.

A nossa valorização não se resume à remuneração mas passa principalemente pela nossa responsabilidade social. Existimos porque existe uma sociedade e o mais grarificante da nossa profissão é chegar junto da mesma, através dos ganhos em saúde conquistados sinergicamente entre Enfermeiro e utente. É essa a nossa verdadeira missão e a melhor valorização que podemos esperar. Cláudia Silva, enfermeira

Se diante de si estivesse um jovem prestes a decidir que profissão escolheria para o futuro, a enfermeira diz que seria fácil escolher as características que definem o que é ser enfermeiro. "A nobre missão que a profissão abraça, fala por si", aponta. 

Mas acrescenta: "a diversividade com que nos deparamos no quotidiano e que nos permite desenvolver competências técnicas, humanas e científicas adaptadas a cada realidade e contexto; a contínua aprendizagem como pilar do nosso desenvolvimento profissional; a interação com os utentes que permite uma aprendizagem recíproca; o importante papel que possuímos no ciclo de vida das pessoas; todos os ganhos que alcançamos e que promovem a saúde da população como um todo. A Enfermagem é sem dúvida uma profissão essencial e fulcral para a sustentabilidade e desenvolvimento regional, nacional e mundial".