"Reprimir a torto e a direito não funciona", diz inspector da ARAE sobre festa leonina
A nível nacional vários especialistas temem o aumento dos casos de covid-19 depois da festa 'verde e branca' de ontem. Na Madeira, embora não sejam conhecidos desacatos durante os festejos, e os adeptos até tenham dispersado de forma ordeira quando receberam indicações da Polícia de Segurança Pública (PSP), o certo é que as medidas de distanciamento e uso de máscara não foram respeitados e o horário de recolher obrigatório, furado.
O presidente do núcleo madeirense do Sporting, Duarte Agrela, afirmou esta manhã à TSF que tem de haver penalizações e Miguel Albuquerque defendeu que os excessos de ontem são um problema da PSP e não do Governo.
Pelo contrário, o inspector da ARAE Luís Miguel Rosa, imputa a responsabilidade aos festeiros: “Não podemos assacar todas estas questões às autoridades porque acima de tudo há a responsabilidade individual. Atendendo à excepcionalidade que vivemos hoje, as pessoas devem ter essa consciência, perceber em que pé é que as coisas andam e até que ponto as suas liberdades não afectarão as dos outros É preciso que as pessoas trabalhem para o colectivo”. Até porque, lembra o inspector, “reprimir a torto e a direito não funciona quando as pessoas não querem aprender a respeitar”.
Ao que o DIÁRIO apurou na noite de ontem na Avenida do Mar, a PSP terá decidido intervir já depois de o horário do recolher obrigatório ter sido queimado, já perto das 00 horas, para evitar situações de confronto com os adeptos, num momento de euforia e de emoções à flor da pele. Luís Miguel Rosa é a favor da decisão: “O aglomerado após o jogo durou algum tempo, ultrapassou o horário, mas a PSP estava no local. Há também aqui uma questão de bom-senso, é preciso gerir bem porque um aglomerado de pessoas facilmente se descontrola. A pior coisa que se pode fazer é uma escalada que possa levar para uma intervenção mais radical e mais à força pela PSP”. Este é o pressuposto que o inspector da ARAE acredita estar na base da estratégia da PSP, que acabou por deixar estender a festa "um pouco mais", mas rapidamente "resolveu a situação e as pessoas foram para casa".
Com a Taça de Portugal no horizonte, pouco antes do Euro 2020 (que acontece em 2021), Luís Miguel Rosa admite que há “possibilidade de criar aparelhos e de reprimir alguns excessos” para evitar aglomerados, mas sublinha que “é difícil proibir ajuntamentos naturais”. É por isso que “as autoridades se vão preocupar em evitar os tais excessos e em mitigar o risco” e isso, acredita o inspector da ARAE, “é o máximo que podem fazer.
Acho muito complicado, não há efectivo suficiente que consiga aguentar ordens e multidões. E não queremos é que essas situações escalem para outros níveis que, de facto, seriam muito mais complexos de gerir. Luís Miguel Rosa, Inspector da ARAE
Determinar algumas medidas excepcionais, como encerrar estabelecimentos para evitar concentrações em alguns locais, pode ser uma das formas a utilizar para desviar grandes concentrações – previsíveis tanto na Taça de Portugal, como no Campeonato Europeu se Portugal vencer – sugere o inspector. Sendo certo que tal “não impedirá que as pessoas saiam à rua”.
Na Madeira, ao contrário do que se passou em Lisboa, não há relatos, para já, de desacatos entre adeptos e forças de segurança e ao DIÁRIO o inspector da ARAE diz que desconhece se a PSP identificou alguém ou levantou autos por incumprimentos. Independentemente disso, Luís Miguel Rosa relembra: “A responsabilidade é de cada um. Deve-se insistir para que as pessoas se auto protejam, se consciencializem da excepcionalidade do momento. Pelo menos que tenham máscara e não a tirem”.