Boa noite!

. O País caiu em cima, e bem, do Secretário de Estado da Energia que classificou o programa da RTP ‘Sexta às 9’ de "coisa asquerosa" e "estrume". Com tanto mecanismo legal ao seu dispor, desde o direito de resposta a uma qualquer acusação judicial, expedientes que ignorou, João Galamba opta por engrossar a fileira dos que fazem da retórica anti-média, assente no despudor verbal, uma forma de vida.

. A RTP denunciou, e bem, o atentado à “liberdade de informação", o que devia fazer sempre, mesmo quando as vítimas da humilhação pública não são vedetas televisivas ou quando os incendiários das redes e dos comentários, mesmo que mais provincianos, não se coíbem de exibir ignorância atrevida nos programas ou reportagens da estação pública.

. João Galamba apagou o polémico comentário que colocou sábado no Twitter, como se o eventual gesto de arrependimento conseguisse eliminar o propósito inicial. Seja "estrume" ou perfume, uma vez postos a circular nas redes é como pedra fora da mão.

. O ministro do Ambiente admitiu que o seu secretário de Estado adjunto e da Energia usou "linguagem desajustada". Pelo menos não lhe manifestou confiança cega. Mas foi brando até porque, como sabe, há formas mais ajustadas e eficazes de defender a democracia e de pedir desculpas.

. A investigadora do Instituto de Ciências Sociais de Lisboa e presidente da associação cívica Transparência e Integridade, Susana Coroado, por nós entrevistada na semana passada, para além de criar a ‘hashtag’ #estrumegate lançou um tema que merece ser discutido também pelos que acham que o apelo ao bom senso e responsabilidade na colocação de posts na redes sociais interfere com o sagrado domínio das liberdades. Não só é útil que o governo reveja o seu código de conduta para definir regras sobre a utilização das redes sociais dos seus membros como esta é uma matéria transversal e a exigir reflexão e actuação de várias classes profissionais.

. Muitos hipócritas foram severos com João Galamba, por considerarem que este tipo de declarações vindas de um membro do governo assumem particular gravidade. Onde andavam quando no final do mês passado o secretário regional da Economia do Governo Regional da Madeira, Rui Barreto, ‘autorizou’ quem sobre ele escreve a “vomitar”?

. Um erro de palmatória com intuitos intimidatórios não deve justificar outros desvarios não menos fertilizantes. Que o presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, peça a demissão de Galamba, acusando-o de ter atacado "de forma ordinária" um canal de televisão faz parte do jogo político. Que o classifique de 'hater' e ‘cowboy' do teclado no seu Twitter é nível por baixo o que merecia mais elevação.