"Nesta fase é aproveitar tudo o que vem à rede"
André Barreto, cujo hotel não deverá tirar proveito dos 'charters do Leste', assinala as medidas positivas tomadas após mais de um ano em pandemia
A dezena ou mais de voos charter semanais que virão do Leste europeu em Junho e Julho, são "uma boa notícia" para a Madeira, reage o hoteleiro André Barreto, embora realce que não seja um mercado com o qual trabalhe, olha para o todo e afiança: "Nesta fase é aproveitar tudo o que vem à rede."
Efectivamente, a notícia de que a Madeira irá receber nos próximos dois meses a consolidação de um mercado alternativo de pelo menos quatro países do leste da Europa, a saber Polónia, que tem sido das mais activas, Roménia, República Checa e Lituânia, acaba por surpreender, uma vez que são tudo países que estavam habitualmente inseridos na 'categoria' de "Outros Países".
André Barreto, gestor da Quintinha de São João, fica ainda assim contente porque "o que precisamos é de mais operações, mais clientes", porque no seu negócio estão "à espera de melhores dias, que nesta altura é o melhor que podemos fazer". E acrescenta: "Vamos aguardar a retoma das operações para podermos trabalhar. As perspectivas parecem estar a melhorar, com a inclusão de Portugal no 'corredor verde' do Reino Unido e os espanhóis não. É mau até dizer isto, mas é a realidade. Às vezes o mal dos outros é o nosso bem."
Em "modo sobrevivência"
Nesta fase, com um hotel bem situado, reconhecido pelos clientes, mas sem poder tirar proveito ao máximo, o empresário garante que continuam "em modo sobrevivência, a tentar aguentar, com muita dificuldade e cada vez maior, porque estamos há mais de um ano nisto", realça. "As coisas estão efectivamente a parecer melhores, mas isto ainda vai ser um processo longo. Não se pense que passar de 10% para 30% (de ocupação) que resolve alguma coisa. Não resolve".
Depois amanhã aparece a variante do Botswana e já fui outra vez, não é. Não vale a pena. É uma gestão do dia a dia. É terrível, é difícil, é desgastante, mas é o que tem de ser. André Barreto
Reabertos desde Julho do ano passado, desde então com "altos e baixos", frisa André Barreto, questionado sobre perspectivas perante esta notícias positivas, é claro: "Já há algum tempo que percebi que isto de perspectivas até posso ter, mas depois amanhã aparece a variante do Botswana e já fui outra vez, não é. Não vale a pena. É uma gestão do dia a dia. É terrível, é difícil, é desgastante, mas é o que tem de ser."
Por isso, insiste: "Vamos gerindo o dia a dia, contentes por ouvir notícias dessas. Porque a Madeira também vai ter de fazer esse caminho de ajustar a oferta à procura, embora agora com menor necessidade porque tem menor procura. No período pré-pandemia era uma das questões que me preocupava, o aumento do número de camas no mercado sem a necessária correspondente no número de operações que apareciam. "
O hoteleiro também crê que "infelizmente agora vamos ter menos hotéis no mercado, porque algumas que fecharam não vão voltar a abrir" e, portanto, "outras operações são sempre boas, mas tenho curiosidade em perceber se essas operações se vão ao tipo de cliente tradicional da Madeira ou se para um tipo de clientela mais jovem", questiona.
Vacinação ao turismo e teste à saída é positivo
Quanto a esta reabertura e perante as boas notícias em termos da evolução da pandemia, o gestor que lembra já terem ocorrido aberturas e novos apertos em termos de medidas anti-covid, prefere o popular termo "cautelas e caldos de galinha". E explica. "Tem de ser. Até porque estamos aqui a gerir pessoas e também temos de saber gerir as suas expectativas, o que é igualmente muito difícil. Também elas estão preocupadas."
As recentes medidas adoptadas pelas autoridades regionais - vacinar os profissionais de turismo e passar a garantir a testagem aos passageiros cujo país de destino assim o exige à chegada - ajudam à retoma da confiança, tanto interna, mas sobretudo externa, que podem contribuir para diferenciar o destino Madeira, acredita o empresário.
"Do ponto de vista comercial parece-me uma excelente opção, porque é um factor de venda", aponta. "Enquanto cidadão, posso ter uma qualquer opinião relativamente diferente, porque acho que o facto que deveria prevalecer é o da idade. Mas, fico contente que esta medida é um factor positivo, podermos dizer que os turistas podem vir descansados pois com quem terão contacto estão todas vacinadas, julgo que é benéfico. Assim como o pagamento pela Região do teste naqueles destinos emissores que ainda obrigam a teste no regresso".
"É uma medida importantíssima" e a par da vacinação aos profissionais de turismo, "foram duas questões bem geridas por quem tem a pasta". E, portanto, fico agradecido, embora ache que o critério, que é sempre subjectivo, do ponto de vista comercial há de ser positivo para nós", conclui.
Números que atestam mercado irrisório em tempos normais
Em 2019, foram quase 186 mil hóspedes de "Outros Países" entrados nas unidades de alojamento turístico da Madeira de um total de quase 1,4 milhões, ou seja 13,4%. A grande maioria (86,6%) vinha de 14 destinos, incluindo o mercado português.
Ou seja, de todas as outras nacionalidades que visitaram a Madeira no último ano normal, estavam turistas também polacos ou checos, lituanos ou romenos, embora não seja possível neste momento saber exactamente qual era o seu peso.
Ainda assim, estes países que, seguramente são algumas dezenas, representaram mais de 1 milhão de dormidas em 2019 de um total superior a 8,1 milhões, representando 13% das dormidas nesse ano pré-pandemia.
Neste momento e nos primeiros três meses de 2021, a Madeira recebeu em plena pandemia um total de 2.510 turistas da Polónia e 2.483 da República Checa, o que é significativo e promete aumentar nos meses que se seguem.