O 25 de Abril sem complexos
Gostei do discurso do Presidente da República no 25 de Abril. No fundo o que ele quer é que nesta data mais do que andar com comemorações balofas como cantorias e discursos nos quais se elogiam apenas os aspetos positivos deste acontecimento se avaliem também os aspetos menos conseguidos para que de uma vez por todas possam ser encarados de frente e objeto das ações corretivas que se impõem. Um deles é sem dúvida dar o devido reconhecimento a todos os militares mobilizados para uma guerra, que os governantes sabiam não ter uma solução militar, e os quais com maior ou menos intensidade passaram sacrifícios desnecessários caso os políticos tivessem agido atempadamente. Mas mais do que se preocuparem com compensações materiais, que também são importantes nesta altura da sua idade, deveriam os governantes pugnar pelo seu mérito anulando a ostracização a que foram votados desde 1975 até agora. Outro aspeto negativo é sem dúvida o da descolonização, porque: 1º as populações residentes não foram auscultadas nomeadamente as de Angola onde existiam três movimentos de libertação tendo esta colónia sido claramente entregue ao MPLA pelos governantes portugueses da altura. Daí resultou uma guerra civil no qual morreram milhares de angolanos e, governos sucessivos do MPLA corruptos que só têm trazido miséria a um povo que possui uma terra riquíssima 2º os milhares de portugueses que lá viviam e contribuíram de forma decisiva para o nível de desenvolvimento que testemunhei e os quais foram abandonados à sua sorte regressando a Portugal e suas Ihas Atlânticas com uma mão à frente e outra atrás. 3º Os combatentes africanos que lutaram ao lado das nossas tropas foram também abandonados à sua sorte sendo a maior parte deles abatidos pelos novos senhores (caso da Guiné) 4º e por último o caso de Cabinda um protetorado, reconhecido pela Conferência de Berlim realizada em 1885, com base em tratados celebrados (três) entre Portugal e os representantes do povo de Cabinda, mais tarde reconhecido pela ONU e OUA como uma das nossa colónias e a qual constava na CRP de 1933 no seu artº 1º como mais uma das nossas colónias. Para vergonha do nosso país os tais governantes de 1975, amigos do MPLA, entregaram Cabinda a Angola cometendo alta traição. E até hoje esse bom povo, que conheci, encontra-se nas mãos de um regime fascista angolano que os subjuga pela miséria e perseguição política. É tempo de Portugal deixar de andar de cócoras perante os altos interesses financeiros de Angola e conjuntamente com este país devolver a soberania do território de Cabinda ao respetivo povo. Celebrar abril é, portanto, não só cantar hossanas aos aspetos positivos que daí resultaram (democratização e desenvolvimento) mas também olhar para as consequências negativas da descolonização e a ostracização dos militares que estiveram nas colónias como se eles fossem os culpados do que se passou.
Manuel João Batista Rosa