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Segurança Pública: quando a Vítima é a Lei

Na pretérita semana, celebraram-se, os 47 anos do 25 de Abril de 1974. E, hoje é o 1º de Maio. Convém recordar, especialmente às gerações mais novas que em Portugal, o 1º de Maio começou a ser festejado a partir de maio de 1974, após a Revolução do 25 de abril. Como feriado, é uma oportunidade para o trabalhador descansar, mas também é um dia de reflexão.

Independentemente de gostos e ideias diferentes, não pretendo interpretar o formato das comemorações, mas acredito que o 25 de Abril e o 1º de Maio, não se celebram apenas num dia, celebram-se todos os dias, em que cada um de nós, realiza abril, em que concretiza não só a Liberdade como o reconhecimento dos direitos laborais que ganhámos pela nossa coragem e determinação por sermos Portugueses.

O problema é que perante o demónio que veio em forma SARS-CoV-2, a Revolução dos Cravos, foi uma comemoração, no mínimo, diferente do habitual, menos deputados no Hemiciclo, menos convidados e sem paradas militares a desfilarem pelas ruas, porque na realidade, isso já não interessa. Interessa sim, lembrar que se assinalou (e bem) uma data importante da história Portuguesa, num contexto delicado para todos nós, fruto da pandemia da COVID-19, e no caso particular da família policial, a que eu tanto me orgulho pertencer.

Por tudo isto, e por razões de circunstância, leva-me de forma inevitável em falar numa situação particularmente dramática aquela que foi vivida nos últimos dias por um colega de profissão, que pertence aos quadros do Comando Metropolitano de Lisboa, a prestar serviço na 70.º Esquadra de Loures, em que a viatura pessoal de um profissional da PSP, foi destruída pelo fogo, mesmo junto à sua residência particular, com contornos muito suspeitos de intervenção de terceiros.

Parece ficção, mas é a realidade. É o tema indiscutível da semana na PSP, pelo menos para aqueles que viveram de perto o drama do agente, estou em crer, para muitos daqueles que, como eu, chegaram no rescaldo, onde as críticas têm sido mais ou menos consensuais, pelo que não valerá a pena dissecá-las aqui.

Mas, ao constatarmos esta certeza, somos como que levados a perguntar onde andam os tais senhores defensores dos direitos humanos, aquela tal voz que sussurra nos ouvidos dos polícias? Debrucemo-nos sobre o que aconteceu é necessário que todos nós tenhamos noção que gestos singelos do nosso dia-a-dia são essenciais para reafirmar que são as liberdades de qualquer ser humano e neste caso particular em que a vítima é um polícia.

Tentando compreender a situação. Se, por um lado, ainda que não haja certezas sobre a autoria desde repugnante crime, e caso se venha a confirmar que teve autor ou autores, importa não confundir as ações, seja ela qual for. Contudo, por outro lado, descobertos que sejam os autores desta “vingança” por ser um polícia, importa que seja feita justiça, pela vítima, pela liberdade, por todos nós.

Serve tudo isto para explicar, as várias manifestações de solidariedade ocorridas no seio interno da PSP para com este “camarada” vítima deste “atentado”, mas também aos princípios que norteiam a Instituição PSP. Marcou-me particularmente a atitude positiva por parte do Senhor Diretor Nacional da PSP, a repudiar os acontecimentos e a enaltecer a união e a “coesão interna” proporcionada quando os elementos daquela divisão policial adquiriram uma viatura e “ofereceram ao nosso camarada que perdeu a sua”.

Para que não hajam meias-palavras: A mais mediática e importante Força de Segurança em Portugal, a PSP, foi palco de um ataque à liberdade. Ficamos perplexos! Que significa tudo isto?

Como sou cidadão, ou julgo ser, parto do princípio que os leitores sejam igualmente cidadãos, como presumo que questões que tenham impacto na segurança, este episódio interessa a todos. Mas quando uma parte da sociedade tenta justificar atos de barbárie como o que aconteceu ao meu “camarada”, é apenas sinónimo ou que o medo começa a calar consciências ou que os alicerces da nossa sociedade estão efetivamente de pernas para o ar.