Trabalhar em tempo de pandemia
Se quem trabalha sempre enfrentou muitas dificuldades e os seus direitos têm sido ameaçados lentamente, em tempos de pandemia as exigências que são feitas a muitos sectores profissionais são muito grandes e tudo virou um pouco de pernas pró ar.
Os contratos de trabalho não conseguem responder aos novos desafios porque os negociadores nunca previram que iríamos viver esta situação, que já se prolonga no tempo e não sabemos quando vai acabar.
Hoje é cada vez mais difícil que os direitos sejam cumpridos, e só se ouvem vozes a dizer para quem trabalha se adaptar aos novos tempos porque, se assim não for, corre o risco de ficar sem trabalho. Já não basta a forte precariedade laboral que nos últimos anos agravou imenso as condições de trabalho e baixou drasticamente os salários, mesmo em quem trabalha na investigação científica de várias áreas, porque quase foram eliminando as carreiras profissionais, para agora fazerem ainda mais exigências, aproveitando-se desta situação estranha que estamos a viver.
A nossa Região, muito virada para o exterior e totalmente dependente do turismo, atravessa uma crise sem precedentes e as perspetivas de melhoria ainda são uma incógnita.
Por mais medidas que possam ser anunciadas, o que sabemos por aquilo que vem a público é que a maioria de quem está desempregado/a nem está a receber subsídio de desemprego e os apoios que existem para os/as trabalhadores/as e até sectores do pequeno comércio, são muito escassos e não são suficientes para enfrentar muitas vezes o pagar a renda dos estabelecimentos que lutam para manter os postos de trabalho.
Realmente, trabalhar em tempos de pandemia não é fácil, fica sempre a sensação que tudo está em suspenso e que quem se atrever a dizer que quer os seus direitos, que não quer pagar os gastos para poder dar aulas em casa, que não aguenta estar permanentemente online muitas vezes sem horário, que vê-se obrigado/a a cumprir objetivos que eram realistas antes da pandemia mas que precisam de ser adaptados pelas entidades empregadoras, e considera que deve ser recompensado por isso, parece que está a cometer um sacrilégio.
Neste 1º de Maio, cujas comemorações serão muito condicionadas ao período que estamos a viver, temos que lembrar que nenhuma pandemia pode suspender os direitos de quem trabalha. Temos que lembrar a quem governa que os direitos de quem trabalha são muito importantes se queremos manter uma sociedade democrática e participativa.
Há maneiras de compensar quem trabalha, e que está a gastar do seu bolso para custear as despesas do teletrabalho. Desde que exista esta preocupação, toda a gente ganhará em manter a sociedade a funcionar, compensando quem deve ser compensado.
Não esquecer também que, quem trabalha nos sectores que asseguram que a economia funcione para nos abastecer dos bens e produtos essenciais, deve ser tratado com prioridade em relação à sua proteção individual, sobretudo ao nível da vacinação.
Raramente se ouve falar que quem trabalha nos super e hipermercados, padarias, etc., tem prioridade na vacinação. Deviam ter, porque tratam de perto com todo o público indiferenciado e correm muitos riscos, sobretudo se a pandemia na Madeira entrar numa outra fase, como já foi anunciado por responsáveis da saúde.
Temos de cuidar de quem trabalha como se fossem “as meninas dos nossos olhos”, porque são esses/as que fazem com que as nossas vidas ainda se mantenham num ritmo mais ou menos normal, nesta situação em que nos sentimos em suspense permanente sem saber quando o mal nos pode bater à porta.
Hoje e sempre temos que cuidar para que o espírito de luta que deu origem ao 1º de Maio se mantenha vivo nos nossos corações e em toda a sociedade em geral.