Presidente do Brasil Jair Bolsonaro sob pressão antes da cimeira do clima
Uma coligação que reúne cerca de 280 associações de defesa ambiental e representantes do agronegócio exigiram hoje ao Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, objetivos "mais ambiciosos" de combate ao aquecimento global, antes da cimeira do clima deste mês.
"O Brasil é considerado um país-chave nos esforços globais para o equilíbrio climático do planeta", lembrou a coligação "Brasil, Clima, Florestas e Agricultura" numa carta aberta endereçada ao Governo de Bolsonaro.
Esse grupo, que reúne organizações não-governamentais (ONG) como o WWF (World Wide Fund for Nature) e gigantes do agronegócio, como a Danone, ou de cereais, como a Cargill, apontou a desflorestação como "responsável por 40% das emissões de CO2 do país".
A desflorestação atingiu níveis muito preocupantes desde a chegada ao poder do Presidente de extrema-direita, Jair Bolsonaro, em 2019.
Apesar de o abate de árvores vir aumentando nos últimos anos, "o Brasil já mostrou do que é capaz", explica a carta, referindo que, entre 2004 e 2012, o país "fez a maior redução de emissões de gases de efeitos estufa (GEE) já registada por um único país, ao reduzir em 80% sua taxa de desflorestação".
Em 2012, a desflorestação no Brasil atingiu o mínimo histórico, com 4.100 quilómetros quadrados desflorestados.
Durante os primeiros dois anos do mandato de Bolsonaro, que tomou posse em janeiro de 2019, a área florestal arrasada do mapa atingiu 10.700 quilómetros quadrados em 2019, e 9.800 quilómetros quadrados em 2020, os piores números desde 2008.
A coligação defende explorações agrícolas que respeitem mais o ambiente e ressalta que o Brasil tem um papel importante a desempenhar para que sejam evitadas "futuras e trágicas pandemias como as que vivemos, fruto de zooneses [nome genérico dado a várias doenças infecciosas dos animais] decorrentes da destruição de ecossistemas".
O chefe de Estado brasileiro já se mostrou favorável à exploração agrícola e mineira da Amazónia, qualificou de "cancro" as ONG ecológicas e acusou ainda as potências estrangeiras de criticarem a sua política ambiental de forma a apoderarem-se dos recursos naturais do Brasil.
O Presidente norte-americano, Joe Biden, convidou 40 líderes mundiais, incluindo Jair Bolsonaro e os chefes de Estado chinês e russo, Xi Jinping e Vladimir Putin, respetivamente, para uma cimeira virtual sobre o aquecimento global em 22 e 23 de abril.
Bolsonaro foi um dos últimos líderes mundiais a congratular Biden pela sua vitória nas eleições presidenciais dos Estados Unidos no ano passado.
Durante o primeiro debate presidencial contra Donald Trump, em outubro de 2020, Joe Biden ameaçou o Brasil com sanções económicas devido à desflorestação na Amazónia.
Na ocasião, Bolsonaro, aliado incondicional de Trump, considerou "desastrosas" essas declarações, que, segundo o mandatário, poderiam colocar em risco "as relações cordiais" entre Brasília e Washington.