Estudo mapeia 321 pontos de mineração ilegal de ouro na Amazónia brasileira
Um estudo divulgado ontem pelo Instituto Igarapé informou que a Amazónia brasileira está repleta de operações ilegais de mineração de ouro, com pelo menos 321 minas ilegais, ativas e inativas, identificadas em nove estados do país.
O estudo da organização não-governamental (ONG) chamado "O ouro ilegal que mina florestas e vidas na Amazónia: uma visão geral da mineração irregular e seus impactos nas populações indígenas" destacou que a presença de mineração ilegal tem impacto direto nas taxas de desflorestação da Amazónia e causa riscos à saúde das populações indígenas.
O desflorestamento da Amazónia no Brasil aumentou 25% no primeiro semestre de 2020, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
O Instituto Igarapé frisou que "a contribuição da atividade mineradora para as taxas de desflorestamento aumentou de 4%, em 2017, para 23%, em territórios indígenas, de acordo com dados registados até 10 de junho de 2020".
A ONG acrescentou que no Brasil a desflorestação "se concentrou em territórios indígenas onde, entre 2018 e 2019, a degradação ambiental causada pela mineração aumentou 107%".
O estudo também informou que a extração ilegal de um quilo de ouro representa cerca de 1,7 milhão de reais (256 mil euros) em danos ambientais, resultando num custo ambiental cerca de 10 vezes maior que o preço real do ouro.
O aumento da procura por ouro responde a uma demanda do mercado mundial já que nos últimos 20 anos a cotação do metal aumentou de 400 dólares (347 euros) para 1.861 dólares (1.615 euros) por onça [unidade de medida usada na cotação do ouro] em razão da elevada demanda da China e da Índia.
"A produção do metal exige muito tempo e capital. Assim, um aumento na procura geral provocou uma demanda relacionada pela mineração ilegal de ouro, uma indústria que, segundo estimativas, rende entre 12 mil milhões de dólares (10,4 mil milhões de euros) e 28 mil milhões de dólares (24,3 mil milhões de euros) ao ano", frisou o Instituto Igarapé.
A publicação informou que somente entre 2017 e 2019 cerca de 1.174 hectares de floresta amazónica no Brasil foram perdidos com ações de mineração ilegal de ouro no território Yanomami, localizado entre os estados do Amazonas e de Roraima.
Em 2019, o território teve as maiores taxas de desflorestamento dos últimos 10 anos.
O Instituto Igarapé referiu que além de impulsionar a destruição de territórios indígenas, a invasão de mineradores ilegais nas reservas gerou riscos à saúde, como o envenenamento por mercúrio, malária e, desde 2020, de infeção pelo novo coronavírus.
A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta, com cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).