Cinema poderá "encolher de forma bastante substancial"
A Associação Portuguesa de Empresas Cinematográficas (APEC) alertou ontem que o mapa da exibição de cinema poderá "encolher de forma bastante substancial" por causa da pandemia, e calcula para este ano uma quebra de 50% nas receitas.
A duas semanas da reabertura dos cinemas, teatros e outras salas de espetáculos, prevista para o dia 19 no âmbito do calendário de desconfinamento, a APEC e a Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais (FEVIP) foram ontem ouvidas na comissão parlamentar de Cultura e Comunicação, ainda no seguimento das audições requeridas pelo PSD para auscultar representantes do setor cultural.
"Temos uma data de abertura com imensas restrições, pelo menos nos primeiros 15 dias, e isso trará problemas acrescidos a uma atividade que está representada de norte a sul do país, 365 dias por ano, e em que há um risco extremamente elevado de encolher de forma bastante substancial a sua oferta de cinema aos portugueses", afirmou Paulo Aguiar, da direção da APEC.
As salas de cinema estão fechadas desde meados de janeiro e voltarão a abrir com as mesmas regras de funcionamento definidas em 2020 pela Direção-Geral da Saúde: Distanciamento, uso de máscara, higienização dos espaços e obrigatoriedade de encerramento às 22:00 durante a semana e às 13:00 aos fins de semana. Manter-se-á também a proibição da venda de comida e bebida.
Estas restrições, que obrigam a suprimir sessões em 'horário nobre' e a cortar nas receitas provenientes, por exemplo, da venda de pipocas, "têm um impacto tremendo" nas receitas dos exibidores representados pela APEC, afirmou Paulo Aguiar.
De acordo com os dados mais recentes do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), a exibição de cinema em Portugal contava em 2020 com 561 salas, grande parte das quais em complexos cinematográficos - multiplexes - em centros comerciais e nos maiores centros urbanos.
"Pode estar em causa esta presença nacional e os locais que mais poderão ficar afetados pelo encerramento de salas serão os locais do interior onde a procura é inferior", disse Paulo Aguiar.
Segundo o ICA, com a pandemia da covid-19, a exibição cinematográfica em Portugal sofreu, em 2020, uma quebra de 75,55% em audiência e em receitas face a 2019, para um total de apenas 3,77 milhões de espectadores e 20,4 milhões de euros.
"A exploração do cinema assenta num negócio de fluxo muito grande de pessoas, só assim é que é viável do ponto de vista económico", corroborou o diretor-geral da Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais (FEVIP), Paulo Santos, na mesma audição parlamentar.
Com aquelas restrições, a APEC estima uma quebra de pelo menos 50% este ano, nas receitas das exibidoras.
Em fevereiro passado, Paulo Aguiar tinha revelado à agência Lusa que entre 300 a 400 pessoas terão ficado sem trabalho com a redução de atividade e fecho temporário das salas de cinema, desde o começo da pandemia.
Segundo a APEC, entre 1.500 a 1.600 pessoas trabalham direta ou indiretamente no setor da exibição cinematográfica, mas a redução de atividade das salas de cinema e os dois períodos de encerramento temporário levaram a que "entre 300 a 400 pessoas possam ter deixado este negócio".
Ainda que possam ter beneficado de apoios transversais à economia, nomeadamente o regime de 'lay-off', as duas associações recordaram hoje aos deputados que as empresas que representam queriam, e não obtiveram, apoio específico para as exibidoras cinematográficas.
"Esta atividade lutou pela obtenção de uma linha de crédito específica de oito milhões de euros a fundo perdido que teria permitido fazer face às despesas correntes", afirmou Paulo Santos, da FEVIP.
Sobre o retomar de atividade da exibição comercial de cinema, Paulo Santos afirmou que só com "imunidade de grupo e vacinação em massa é que as pessoas vão ter menos medo de ir ao cinema. (...) Tem de haver medidas de testagem maciça ao pessoal dos cinemas. A testagem e a vacinação são a resolução do problema".
Na audição parlamentar, foi deixado ainda o apelo para que sejam alocados 2% das verbas do Plano de Recuperação e Resiliência para a área da Cultura.
A APEC representa 90% das empresas exibidoras de cinema em Portugal, como a NOS Lusomundo Cinemas - líder de mercado -, a Cineplacec, a NLC - Cinema City, a UCI Cinemas e a Socorama.
A FEVIP representa empresas produtoras e distribuidoras do audiovisual e videojogos, como a Cinemundo, a Sport TV, a NOS Lusomundo Audiovisuais e a PRIS Audiovisuais.