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O treinador que levou a Madeira às nuvens

Conheço o João Luís há mais de trinta anos. Ainda andava de camisola verde-rubra vestida, o equipamento parecia confundir-se com a pele. A ele e ao companheiro de equipa Carlos Jorge o Marítimo ficou a dever décadas de dedicação impagável. O João e a família, que tenho o prazer de conhecer quase desde sempre, nunca deram nas vistas, nem se gabaram, como se diz em bom madeirense, dos feitos do menino lá de casa. A mãe, a D. Teresa, foi das pessoas mais bem-dispostas que conheci em toda a minha vida e a educação do Sr. Ivo sempre foi uma imagem de marca. O filho, herdeiro de uma família que nunca viu outra cor à frente, teve o dom de querer para os miúdos desta terra um futuro diferente do seu, criando a Esfuma – Escola de Futebol da Madeira há mais de vinte anos.

O João Luis passou sempre despercebido nos corredores da fama, fez o seu percurso pela sombra das luzes do passeio da fama e encostou o equipamento sem ter tido um único momento de vaidade. Não foi um Cristiano Ronaldo, não nasceu pobre, não teve um Jorge Mendes na sua vida, mas mostrou que desde que treinou o Cruzado Canicense tinha todas as condições para continuar a ser humilde. Treinasse ele o clube que treinasse. Passou por meio mundo e voltou sempre à Madeira com o mesmo sorriso, conservando as mesmas amizades, as mesmas raízes.

A Madeira esquece frequentemente os seus, a não ser que façam o pino em cima do arame, o futebol parece ter ficado resumido a um pequeno da Quinta Falcão e a imprensa regional, incansável, tenta fazer justiça aos seus. Mas não lemos. Conhecemos os que vêm, rotulados de heróis, que às vezes voltam ao mesmo clube, os que reforçam os clubes que vão descer – só um milagre os vai salvar – e os que saíram pelas portas grandes e portas pequenas. Falamos deles nos cafés, no trabalho e nas redes sociais e somos todos treinadores de bancada.

Mas o João continuou o seu caminho, quase anónimo, simples, com o sorriso que sempre lhe conhecemos. Vem ver a família e volta ao frio da Lituânia, onde mostra que na Madeira se faz gente grande, que anda nas nuvens lá pela Lituânia, com outro grande madeirense, o Luis Olim. Oriundo da mesma escola verde-rubra, o único clube em que jogou, com os mesmos valores do João.

Continuo sem encontrar as palavras certas para descrever o orgulho que a Madeira devia sentir destes dois filhos da terra. Sobretudo pelo João, que já coleciona uma Taça e uma Supertaça da Lituânia. Não sei se alguma vez saberemos dizer o nome do clube, o FK Panevezys, mas saberemos acompanhar os jogos dos próximos meses da equipa que derrotou um dos grandes daquele país do Báltico. Com dois madeirenses que nos mostraram que às vezes não é preciso ir fora buscar valores para levarem os dois principais clubes à zona dos aflitos. Mas só o tempo dirá.