Estamos à espera de quê?
Uma tempestade e dois apagões merecem reflexão séria. nem sempre a sorte é amiga
A tempestade que se abateu sobre o Funchal na noite de 27 de Março fez ressuscitar todos os receios do 20 de Fevereiro de 2010. O fantasma da aluvião pairou, por horas, em muitas cabeças, incrédulas pela quantidade de água que inundou garagens e provocou prejuízos em casas e em espaços comerciais, pondo a nu uma série de fragilidades e vulnerabilidades que não deveriam subsistir, 11 anos após o dilúvio que ceifou a vida a quase meia centena de pessoas.
A quantidade de chuva que caiu na capital no passado fim-de-semana, um super recorde de 300 litros por metro quadrado, provocou estragos mas não fez, felizmente, qualquer vítima mortal, nem feridos. No entanto foi portadora de uma série de alertas, consubstanciada pelas palavras de Victor Prior, o delegado do IPMA na Madeira. Se a forte precipitação tivesse ocorrido no Areeiro, teria existido uma catástrofe devastadora. Ficou o aviso da parte de quem estuda e acompanha os fenómenos meteorológicos, sobre uma região cada vez mais exposta a episódios climáticos extremos. São assustadores os indicadores que revelam, por um lado, a ausência cada vez maior de chuva, com todas as consequências daí resultantes, bem como os recordes anuais de temperaturas elevadas, nada consentâneas com o tradicional clima ameno a que estávamos habituados. Chove menos, mas situações como a de 27 de Março podem ser mais frequentes.
Perante as evidências temos de ser proactivos e adoptarmos uma postura preventiva. Temos de fazer a prevenção do risco. A Madeira está preparada para mitigar os efeitos provocados por uma catástrofe? As entidades oficiais têm mecanismos de resposta eficazes perante os alertas meteorológicos? Ou continuamos a correr atrás do prejuízo? A ideia com que ficámos no passado fim-de-semana é que há muito trabalho de casa por fazer, do governo regional aos municípios, passando pelos particulares. De pouco adiantam os jogos políticos, completamente dispensáveis nesta área em concreto. Interessa, sim, traçar um rumo, definir orientações para que não sejamos apanhados desprevenidos de futuro e para que os prejuízos causados pelas intempéries sejam de pouca monta. Interessa também promovermos acções de protecção civil, de as integrarmos nos currículos escolares. A população tem de estar preparada e saber como agir em caso de necessidade. Se é verdade que nenhum país está livre de fenómenos meteorológicos adversos, é também verdade que os mais bem preparados lidam melhor com a destruição provocada pelas tempestades. Seria bem-vindo um debate público à volta destas questões.
2. Hoje é Domingo de Páscoa, dia em que tradicionalmente as famílias se juntam ao almoço para celebrarem a ressurreição de Cristo. Apesar do apelo da data e, sobretudo, da vontade de conviver com os nossos, não estamos ainda perante uma situação pandémica que nos faça baixar a guarda. Olhemos para o que aconteceu no Natal e façamos mais um esforço suplementar, em nome da saúde e, também, da economia.