O suicídio tornou-se uma ideia romântica…
Temos que aceitar de uma vez por todas que os jovens de hoje nunca serão os jovens que nós fomos
Esta semana vários jovens referiram a promoção da saúde mental e a prevenção da violência como prioridades para a sua saúde na próxima década. O documento que deu início a uma discussão realizada pelo Conselho Nacional de Saúde indicou como factos mais relevantes “a promoção do bem-estar físico e psicológico, a educação para a sexualidade, a prevenção do tabagismo e do consumo de álcool, a promoção da alimentação saudável e da atividade física, e a prevenção da violência (incluindo bullying e cyberbullying)”. Alguns deles queixaram-se ainda da “carga letiva excessiva e de uma cultura muito centrada nos resultados e no perfil do bom aluno. Por isso, pedem um maior equilíbrio e incentivo para o convívio, partilha de experiências e projetos que estimulem o associativismo, e a presença de mais técnicos de saúde na escola, como psicólogos”.
Nós temos que começar a olhar para os nossos jovens e para as gerações vindouras com outros olhos. Talvez mais com os olhos deles. Deixarmos de lado as formatações ou a desvalorização desta cultura multipolar, assente numa diversidade nunca antes vista. Não é só o excesso de informação nem a velocidade a que o Mundo gira nos dias que correm, porque eles estão mais aptos para o momento que nós. É sobretudo a pressão da sociedade, do ter que seguir certos parâmetros, do ser igual aos outros ou sentir necessidade de ser aceite. Esse fervilhar de emoções e a incapacidade de lidar com elas é cada vez mais um factor de exclusão. Assim como a necessidade de terem que se encaixar em conceitos pré estabelecidos e alguns deles arcaicos. Temos que aceitar de uma vez por todas que os jovens de hoje nunca serão os jovens que nós fomos. Não têm que gostar do que gostámos nem achar piada ao que achávamos. Não têm que sentir o que sentíamos nem fazer o que fazíamos.
Em conversa com uma amiga psicóloga ela mostrava-se preocupada com a confusão que vai na cabeça de muitos jovens que por lá passam no consultório. Mas sobretudo com alguns traços comuns entre eles. A forma como o ser diferente os tornou fechados. A sensação de exclusão que é agora mais intensa. A forma como se refugiam nos Animes ( estilo japonês de banda desenhada ) e a inspiração que lá encontram para se cortarem, para auto infligirem dor. A forma como a dor dos cortes é explicada por todos eles como um alívio, por serem superiores à dor psicológica ou mental. Que os faz por momentos abstrairem-se desse buraco para onde foram jogados ao concentrarem-se na dor física. Pelos relatos de alguns o suicídio tornou-se numa ideia romântica. Talvez bem melhor do que a depressão e o sofrimento psicológico que lhes corrói a vontade de viver. Esta pandemia não veio ajudar em nada. É bom começarmos a prestar mais atenção à nossa saude mental e ao equilíbrio espiritual. Os jovens são cada vez mais exigentes. Com isso tornam-se mais necessitados, mais ansiosos e carentes. É preciso encontrar espaço para eles. Dar-lhes esse espaço para serem quem são sem essa necessidade permanente de os julgar...