“A negligência é um dos frutos podres das árvores humanas”
Não foi de propósito, foi mera coincidência a redacção desta carta hoje, 25 de Abril.
Mas é, sem dúvida, pela liberdade que me foi conferida pela revolução do Abril /74 que eu posso expressar-me livremente sobre tudo o que quero ou esteja na posse do meu conhecimento, sem medos e sem o espectro do lápis azul, tendo sempre presente que a minha liberdade acaba quando começa a liberdade do outro. Penso não cometer nenhum atentado à liberdade individual de ninguém, pois considero que liberdade implica responsabilidade nas palavras, nos actos ou nas omissões. Não somos responsáveis apenas pelo que fazemos, mas também pelo que deixamos de fazer, sobretudo quando isso tem implicações em relação a terceiros. Todos somos, como seres humanos, susceptíveis de cometer erros, mas temos de saber reconhecê-los e emendá-los, ou evitá-los o mais possível.
Considero objecto de alguma leviandade e negligência, quando um profissional de saúde, no exercício de funções, atende de forma superficial um doente. Na presença de determinados sintomas e queixas reveladas, assume, sem recurso a exames complementares de diagnóstico, que “isso não é nada”, não vale a pena fazer exames “,“ se continuar assim volte cá “, mesmo perante alguma insistência por parte do doente. E apela-se tanto à prevenção!!!
Claro que os sintomas não desapareceram, vieram a revelar-se uma doença que se agravou e foi aumentar a lista de doenças oncológicas. Que dizer deste profissional? Acusá-lo de negligência? De irresponsabilidade? Sem recursos económicos o caso nunca chegará a tribunal e, ainda que fosse julgado, nunca seria condenado, como acontece em 99,9% dos casos.
Tudo poderia ter um desfecho bem diferente se houvesse um pouco mais de atenção, brio e responsabilidade.
Quem pagará tão pesada factura? O doente e sua família. Com muito sofrimento. Com dor e lágrimas. Foi para poupar uns trocos ao SRS, ou apenas por irresponsabilidade?
Creio que este não será caso único e, quem já viveu situação similar, sabe bem do que falo e do que se sente. Uma revolta incomensurável. Não foi na Síria nem no Iraque. Foi na RAM.
Aos médicos (a larga maioria) que exercem a sua profissão com competência, brio, responsabilidade e humanidade apresento as minhas desculpas, mas temos de convir, “nódoas “acontecem em todas as profissões.
Faço votos de que mais ninguém tenha de passar pelo mesmo.
A falta de saúde tem um preço incomportável.
Madalena Castro