Entre abril e maio, a certeza de um futuro melhor
Vamos, pois, celebrar o 1.º de Maio com a dignidade e com o respeito que nos deve merecer
A semana da libertação. Curiosa esta semana balizada por duas datas memoráveis e carregadas de um peso histórico de esperança num futuro melhor: anteontem, domingo, comemoramos o 25 de Abril, a libertação do nosso país de mais de 40 anos de ditadura; no próximo sábado, a fechar a semana, celebraremos o Dia do Trabalhador. Pelo meio, uma semana de trabalho, em que a tendência será continuarmos a ser esmagados pelas estatísticas da Covid-19, pela desesperança, pela realidade negra do presente atípico que vivemos.
Neste contexto de pandemia, mais de que nunca, faz sentido celebrarmos Abril e Maio, mas, sobretudo, vivê-los intensamente, atualizá-los, interiorizar os valores que representam e caminharmos em direção ao futuro com otimismo. Abril traz-nos a certeza de que «não há mal que sempre dure», de que, ainda que a realidade que nos cerca seja negra, não podemos, nunca, deixar de acreditar na mudança, na libertação das ameias do presente. Na verdade, a desesperança só vencerá quando a deixarmos tomar conta do nosso espírito e da nossa força interior. É bem no fundo de cada um de nós que estão as cores de que se revestirá o amanhã. É certo que estamos, completamente, atolados numa pandemia que parece não ter fim, que nos veio privar de tanta coisa sem as quais a vida é mais penosa; é certo que os nossos hábitos se alteraram, que vivemos mais distantes dos outros e mais isolados. No entanto, o momento da libertação é certo para todos os que souberem e puderem resistir. A ditadura da Covid-19 há de ficar para trás, ainda que as suas marcas perdurem, como as de todas as ditaduras. Abril brilhará e abrirá de novo as portas de Maio, as portas do trabalho com direitos.
Vamos, pois, celebrar o 1.º de Maio com a dignidade e com o respeito que nos deve merecer. Vamos celebrá-lo com a esperança de que o trabalho ameaçado pela pandemia voltará para todos. Vamos, sobretudo, celebrar os trabalhadores, ou seja, vamo-nos celebrar, já que todos somos trabalhadores. Ou não?
Será que uns são trabalhadores e outros são colaboradores? Quem são os trabalhadores e quem são os colaboradores? O que os distingue? Será que uns são mais dignos do que os outros? Em que dia do ano se comemora o Dia dos Colaboradores?
Perguntas curiosas que, certamente, merecerão respostas diversas. Para mim, não há qualquer dúvida: se exerço, regularmente, uma profissão e sou remunerado por ela, sou trabalhador; quando ajudo alguém a realizar uma tarefa, mas não sou pago por isso, ou exerço uma atividade remunerada, mas esporádica, sou colaborador. Afirmo-o convictamente, apesar de conhecer a etimologia de «colaborar»: co(m)+laborar, ou seja, «trabalhar em conjunto». No entanto, graças a uma evolução semântica de muitos séculos, «colaborar» tem um sentido de irregularidade, de instabilidade, de insegurança, que não se coaduna com um trabalho com direitos sólidos e protegidos. Não será, por isso, inocente o uso do termo «colaborador» em vez de «trabalhador».
Viva o trabalho com direitos! Vivam os trabalhadores!