Não falo, não vejo, não ouço
O drama de quem vive da cultura e das enormes dificuldades que muitos estarão a passar e a estupidez inexplicável das lotações de 5 pessoas por espectáculo/evento
1. Disco: tão fresco que ainda nos deixa notas musicais na mão. “Mutatos” de Alan Vega. A viúva do autor que nos deixou em 2016, é a fiel depositária de muito material composto e nunca editado. É daí que vem este álbum, um disco com um quê de apocalíptico, como se fosse uma revelação que merece ser desfrutada com todos os sentidos.
2. Livro: Gary Lachman, neste seu “Estrela Negra a Pairar”, conduz-nos a um mundo para lá daquele que conseguimos percepcionar. Uma espécie de viagem ao “lado negro da força”. Trata o período em que Trump esteve no poder como se isso fosse uma “singularidade” que não deixou nada igual, dado que as regras foram todas alteradas. Francamente, nem sei dizer se gostei do que li, tão perturbante é. O autor, antigo baixista dos Blondie, defende a teoria de que um dos objectivos da administração Trump, ao rejeitar a globalização e o multilateralismo, mais não seria do que voltar a uma lógica de Guerra Fria multipolar proporcionadora de um confronto apocalíptico.
3. Reparo agora, com as sugestões acima, que não estou nos meus momentos de maior fé no futuro. Todos temos semanas assim.
4. Rui Barreto não vai fazer nenhuma declaração sobre o facto de ter recebido um empréstimo, na sua conta pessoal, que se destinava a pagar contas de uma campanha eleitoral em que o seu partido participou e que não declarou ao Tribunal Constitucional, como era obrigado.
Miguel Albuquerque, não sabe nada sobre o facto de Rui Barreto ter recebido um empréstimo, na sua conta pessoal, que se destinava a pagar contas de uma campanha eleitoral em que o seu partido participou e que não declarou ao Tribunal Constitucional, como era obrigado.
Os madeirenses não vão ver nenhuma explicação sobre o facto de Rui Barreto ter recebido um empréstimo, na sua conta pessoal, que se destinava a pagar contas de uma campanha eleitoral em que o seu partido participou e que não declarou ao Tribunal Constitucional, como era obrigado.
Ou seja, isto parece a história dos três macacos em que um não fala, o outro não ouve e o terceiro não vê.
E, assim, acham estas personagens de ópera bufa que o tempo vai fazer com que estas coisas caiam, como é costume, no esquecimento. Cá estaremos para não deixar que assim seja.
5. Na 6.ª feira passada, o JM fez capa com uma fotografia fantástica de Joana Sousa. Na nossa casa da cultura decorria um espectáculo com os actores em palco e cinco cabeças a pontuar numa sala com capacidade para levar quase quatrocentas pessoas.
A fantástica fotografia encerra um enorme drama e uma estupidez inexplicável.
O drama de quem vive da cultura e das enormes dificuldades que muitos estarão a passar e a estupidez inexplicável das lotações de 5 pessoas por espectáculo/evento.
E, depois, é ver os autocarros lotados, as entidades oficiais em alegre confraternização em inaugurações de restaurantes e os supermercados cheios ao fim-de-semana, porque quem trabalha não tem outra oportunidade de fazer as suas compras.
A estupidificação da decisão política e o não entender que liderar é dar o exemplo, são demonstração de incompetência.
Não nos podemos queixar, pois foi isto que escolhemos há ano e meio: o “achismo” no lugar da ciência, a arrogância no lugar da humildade do servir, o confronto de quem tudo sabe no lugar do diálogo de quem tem sempre algo a aprender.
Ontem, passaram 47 anos sobre o 25 de Abril que nos devolveu a liberdade e permitiu a democracia e, 47 anos passados, não aprendemos nada. Fracos alunos somos.
6. Não sou, hoje, um acompanhador assíduo do fenómeno do futebol. Sou apreciador de bons jogos e sou muito mais feliz assim. Mas seria impossível não ter acompanhado o que se passou na semana passada.
Era bom que se entendesse que o problema não era a SuperLiga, porque foi toda ela mal pensada, o problema que levou ao surgimento desta “união de falidos” está nas entidades que organizam e regulam o futebol, UEFA e FIFA.
Se nada mudar, ou se só mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma, tenho a certeza que em dois, três anos, a SuperLiga vai voltar mais democrática, mais inclusiva e com mecanismos que valorizem o mérito.
E aí é que vão ser elas…
7. Para certas pessoas, as outras têm sempre de ser qualquer coisa. Ele há por aí muita gente que não consegue viver sem rótulos. Sejam eles políticos, económicos ou sociais. Como se a liberdade pudesse ser rotulada e encaixotada.
A mim já me chamaram de tudo. Porque fiz uma peça de teatro onde o principal papel feminino era interpretado por um homem, que comigo contracenava, fui um muito óbvio homossexual. Porque fui colaborador da RTP/M, passei por ter lá um tacho chorudo quando o que recebia foi descendo, ano após ano, até se tornar mais do que ridículo, e isto para além de nunca ter passado de colaborador a recibo verde facilmente descartável. Houve, até, quem me dissesse alto quadro da função pública regional, com um ordenado de milhões, quando trabalho há mais de trinta e cinco anos numa empresa com sede em Lisboa onde não ganho mal, reconheço, e a ser detentor de uma conta bancária que tem hoje, ainda, algum dinheirinho, porque recebi na semana passada. Para outros fui, porque já a fechei, proprietário de uma companhia de Teatro que recebia milhões do Governo Regional todos os anos, quando nunca recebeu um cêntimo e viveu sempre da bilheteira dos espectáculos que produzia e, num curto período, de um muito pequeno apoio comunitário que permitiu garantir os honorários de quem, connosco, colaborava. Fui alto quadro do PSD, quando militava no CDS e, hoje, na Iniciativa Liberal, sou um perigoso e porco fascista. E acreditem que podia continuar…
Se no passado isto me afectou, reconheço-o, com a idade passou a fazer-me rir e a constatar que o facto de só de mim depender incomoda muita gente que, a maior parte das vezes, sob a capa do anonimato, fala covardemente de boca cheia.
Esta liberdade permite-me dizer o que me vai cá dentro, sem rótulos e sem dependências. Permite-me escolher sobre e de que falar. Permite-me, livremente, escolher os caminhos a seguir, sem ter de dar contas a ninguém.
É assim que eu gosto!
8. Chamada de atenção: A bazuca que aí vem, mais os planos que lhe estão associados, prevê uma catrefada de euros para uma espécie de revolução digital (ensino e educação, empresas, administração pública).
Fico com a ideia de haver componentes desta transição que vão ficar de fora. A economia digital exige muito mais do que aquilo que está previsto.
A premissa n.º 1 devia ser a que determina que uma economia e uma sociedade digitais só existem para aqueles que estão conectados, para os que estão ligados à rede. Assim de nada serve essa bendita digitalização sem que a ligação de todos esteja assegurada. Se isto não estiver garantido, o que vamos criar são pobres económicos e digitais. Assim, o primeiro passo teria de ser o de assegurar o acesso universal à rede. Mas não é.
9. Caríssimos conterrâneos vimos, por este meio, comunicar que fomos informados de que, a partir da próxima semana, o “bicho” passa a funcionar com horário de verão. Muito obrigado.
A Vossa Autoridade.