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Está na hora de mudar

É preciso ser humilde aceitar os erros e não ter vergonha de os assumir

Como tudo se tornou tão apressado nas últimas gerações, o desassossego passou a ser a palavra de ordem. Os pais pensavam os filhos com um olhar no presente e outro no futuro, sendo este muito mais inquieto e angustiante.

A entrada para a escola tinha que ser antes do tempo, para todos aqueles e eram muitos, que mostravam facilidade em aprender. Começar cedo para acabar cedo o 12º, a faculdade e iniciar um futuro profissional de sonho ainda antes dos 25 anos. Para além da vida escolar e académica era preciso mais e mais: academia de línguas, expressão artística, desporto e tudo mais o que coubesse nas 24 horas dos sete dias da semana. Uma verdadeira azáfama, suportada na ideia de construção de um futuro pendurado num presente mal vivido.

Os efeitos adversos há muito que foram surgindo. As perturbações emocionais, resultantes do desgaste e da falsa ideia de sucesso em tempo record, foram perturbando o desenvolvimento de muitos jovens, tornando-os adultos ansiosos com sérias dificuldades em viver o presente e saborear as conquistas. Tornaram-se prematuros, aparentemente mais dotados para atingir objetivos profissionais e menos dotados para lidar com os objetivos de vida. Globalmente mais frágeis.

Atualmente as entrevistas de emprego passaram a dar mais importância à maturidade, experiência de vida e equilíbrio emocional do que à média de final de curso e, ou, à idade da conclusão da licenciatura ou mestrado. Mesmo assim a azáfama continua e os educadores, pelas mais diversas razões, alimentam esta ideia de pressa na vida. Prepará-los para serem os melhores dos melhores, em tudo o que consideram ser útil e fundamental. Estão preparados se forem excelentes atores deste ensaio de forma de vida.

O atual vírus obrigou-nos a parar, a pensar, a conter. Levou-nos o agora e o que mais desejamos é tê-lo de volta. O futuro passou a ser subjetivo.

Muitos dos jovens, investidos para o sucesso, ficaram pela primeira vez perdidos, sem referência para pensar o presente. Foi-lhes retirada a passadeira elétrica para os níveis futuros, o tempo ficou lento e por isso assustador. A inteligência académica e a ambição de luta contra o tempo não ajudaram a absorver este presente, nem todos os que estão para vir. Nada vai ser como dantes.

Há que pensar, reparar, reconstruir. Dar espaço para uma vida mais autêntica, mais lenta e prazerosa. O futuro só faz sentido se o presente for completo. Não adianta querer correr mais do que o tamanho da passada. Basta pensar e olhar para o que vai acontecendo. Educar é mais do que instruir, é criar competências de vida o que só se torna possível se houver tempo para experimentar.

Os mais críticos, mais resistentes às imposições de perfeição, mais teimosos e persistentes, na sua vontade de viver, estão no caminho certo. Na maioria dos casos o desinteresse pelo sistema instituído resulta da inadaptação a modelos inapropriados. Resistem na tentativa de sobrevivência. Estão a comunicar. Podem dar mais trabalho aos educadores e não se ajustarem totalmente nos modelos educativos atuais, mas se forem respeitados na sua diferença e mobilizados para o processo de mudança, serão uma ajuda preciosa.

Está na hora de mudar. É preciso ser humilde aceitar os erros e não ter vergonha de os assumir. Com a melhor das intenções não estivemos no nosso melhor. O que parecia fazer sentido antes, já há muito que dava sinais de erro. Agora é assumir e começar a reconstruir. É assim, investir no presente.