Indicadores e impactos das alterações climáticas agravaram-se em 2020
Covid-19 só piorou a situação, alerta a Organização Meteorológica Mundial
Os indicadores e os impactos das alterações climáticas agravaram-se em 2020, um dos três anos mais quentes de sempre, e a pandemia de covid-19 abrandou a economia mas não as concentrações de gases, alerta um relatório hoje divulgado.
Da responsabilidade da Organização Meteorológica Mundial (OMM), uma agência das Nações Unidas com sede na Suíça, o relatório foi divulgado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, e pelo secretário-geral da organização, Petteri Taalas, que deixou um aviso a todos os países.
"A tendência negativa do clima continuará durante as próximas décadas, independentemente do nosso sucesso na mitigação. Por conseguinte, é importante investir na adaptação. Uma das formas mais poderosas de adaptação é investir em serviços de alerta precoce e em redes de observação meteorológica", alertou.
De acordo com os dados compilados em relação a 2020, a pandemia de covid-19 e o consequente abrandamento económico fez diminuir temporariamente as emissões de gases com efeito de estufa, mas tal não teve um impacto percetível nas concentrações atmosféricas.
Nos últimos dois anos, afirma-se no documento, as concentrações de gases com efeito de estufa continuaram a aumentar e a concentração de dióxido de carbono (CO2) seguiu os mesmos padrões de aumento também. E a covid-19 só fez piorar a situação de milhões de pessoas já a braços com os riscos climáticos, pelas recessões económicas, pelas perturbações no setor agrícola, pelo aumento da insegurança alimentar e o atraso na prestação de ajuda humanitária.
Em resumo, diz a OMM, além da covid-19, o ano 2020 foi marcado pelo aumento da temperatura da terra e dos oceanos, pela subida do nível do mar, pela continuação do derretimento do gelo permanente e recuo dos glaciares e pelas condições meteorológicas extremas. Tudo isso teve impacto no desenvolvimento económico, nas migrações (internas e externas), na segurança alimentar, e nos ecossistemas terrestres e marinhos.
E para que não restem dúvidas, diz a OMM, 2020 foi um dos três anos mais quentes de que há registo, com uma temperatura média global de 1,2° Celsius acima do nível pré-industrial (1850-1900). Os últimos seis anos (desde 2015) foram os mais quentes de que há registo. E a década 2011-2020 foi também a mais quente de que há registo.
Petteri Taalas lembrou que foi há 28 anos que a OMM fez o primeiro relatório sobre o estado do clima (1993) para dizer a seguir que, apesar dos avanços de informação e tecnológicos, a mensagem continua a mesma, de preocupação com as alterações climáticas. A diferença é que agora há "mais 28 anos de dados que mostram aumentos significativos da temperatura em terra e no mar, bem como outras alterações como a subida do nível do mar, o derretimento do gelo e dos glaciares e alterações nos padrões de precipitação".
Todos os indicadores, sublinhou, "realçam uma mudança climática incessante e contínua, uma ocorrência e intensificação crescentes de eventos extremos, e perdas e danos severos, que afetam as pessoas, sociedades e economias".
Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, o relatório agora apresentado mostra que não há tempo a perder, que o clima está a mudar e que os impactos já são demasiado pesados para as pessoas e para o planeta.
"Este é o ano para a ação", disse, instando os países a comprometerem-se a serem neutros em emissões de CO2 até 2050, apresentando antes da próxima cimeira sobre o clima (COP26), em Glasgow, planos "ambiciosos" para que as emissões globais sejam reduzidas em 45%, comparando com 2010, até 2030.
"E precisam de agir agora para proteger as pessoas contra os efeitos desastrosos das alterações climáticas", avisou António Guterres.
O relatório faz uma análise da situação em várias áreas, uma delas os oceanos, que absorvem cerca de 23% das emissões de CO2 emitidas pelos humanos, mas que devido a esse CO2 se acidificam e que também por isso perdem capacidade de absorção de CO2 da atmosfera. E esse processo continuou em 2020, afetando a vida marinha, os ecossistemas e a pesca.
"O oceano também absorve mais de 90% do excesso de calor das atividades humanas. Em 2019 registou-se o maior teor de calor dos oceanos, e esta tendência provavelmente continuou em 2020", diz-se no documento.
Mais de 80% da área oceânica sofreu pelo menos uma onda de calor em 2020 e o nível médio global do mar continuou a subir no ano passado.
No Ártico as temperaturas aumentam duas vezes mais rápido do que a média global, com implicações nos ecossistemas árticos, mas também no clima global, com o descongelamento dos gelos permanentes (permafrost) a libertar metano para a atmosfera.