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MCE (Movimento Católico de Estudantes): Ver, Julgar e Agir

Falar do MCE é sentir as memórias de um tempo que ajudou a construir a minha visão de mundo e definiu, de forma decisiva, o modo de o pisar em cada instante.

O MCE é um movimento de Igreja no meio estudantil que recolhe e continua a experiência da Juventude Escolar Católica (JEC) e da Juventude Universitária Católica (JUC), movimentos que lhe deram origem. Um dos objetivos é criar, através da pedagogia da Revisão de vida (Ver, Julgar e Agir), o hábito da reflexão entre os jovens, no sentido de encontrarem o seu próprio espaço de intervenção na sociedade, na escola e na igreja.

Fui Coordenador Diocesano do MCE, na Madeira, durante a minha formação académica, onde tive o privilégio de fazer parte de uma equipa de jovens fantásticos(as) que acreditavam nos valores da cidadania participativa e se recusavam a pertencer à geração dos acomodados da vida. Queríamos ser os(as) protagonistas da nossa própria história, numa época em que pensar diferente e desafiar o “statu quo” regional era catalogado como um atrevimento.

Foram tempos de dinâmicas cívicas marcantes que não se limitavam aos debates e ao confronto de ideias, mas também à construção e à apresentação de propostas concretas sobre diversas áreas, procurando, quando necessário, linhas de cooperação com outros movimentos associativos.

Colaborávamos, regularmente, com o “Espaço Arco”, na organização de conferências, debates e encontros ecuménicos, onde participaram ilustres políticos, governantes, dirigentes juvenis, professores universitários, investigadores, jornalistas e escritores.

Desenvolvemos iniciativas que tiveram enorme impacto, porque surgiam como resposta ou discussão de problemas que preocupavam o dia a dia dos(as) jovens e da sociedade em geral. Entre outras, abordámos questões relacionadas com a avaliação dos alunos, o sucesso e o insucesso, a qualidade das aprendizagens, o acesso ao ensino superior, a importância da Universidade da Madeira, o seu projeto de sociedade e o seu financiamento. Campanhas de sensibilização contra o racismo, atividades com o propósito de refletirmos sobre a liberdade, a democracia, as desigualdades sociais e a pobreza. Organizávamos vigílias por Timor e outras campanhas de solidariedade, participámos nos Conselhos de Juventude, tive a honra de representar o movimento na receção ao Papa João Paulo II, durante a sua visita à Madeira, participei num encontro internacional, em Praga, onde se abordou a constituição de uma nova Europa.

E porque os projetos são as pessoas e não a ordem das palavras, embora não possa desvalorizar o papel da “Folha de Ligação”, uma pequena revista de âmbito nacional que apresentava as atividades produzidas pelo movimento nas suas dioceses, recordar o MCE significa evidenciar algumas das referências que nunca poderei esquecer pela relevância que tiveram na construção do meu ser e estar na vida.

O padre Peter Stilwell, que era o assistente nacional, foi o Mestre. Falava do movimento como uma escola de formação para uma cidadania participativa, relevava a importância do diálogo ecuménico e insistia para que nunca quebrássemos o pacto com a realidade. É curioso, lembro-me ainda de o ouvir citar o poeta Ruy Cinnati. Retenho o seu saber, o tom ponderado das suas ideias, uma serenidade e convicção que ficaram connosco para sempre. Naturalmente, o nosso mentor Eduardo Franco, o responsável por trazer o MCE para a Madeira, e, entre outros jovens coordenadores e assistentes nacionais e regionais, evidencio o Miguel Fontes, o Miguel Marujo, a Susana Tavares, a Claúdia Conceição, a Paula Abreu, o Edgar Silva, o Nicolau Fernandez e o Ricardo Miguel Oliveira.

Conheci lugares e pessoas que não só me ensinaram uma outra forma de ser igreja, como me mostraram, através do método da Revisão de Vida (Ver, Julgar e Agir), que o mundo não é linear em sentido nenhum, pois existem imensos contornos e ângulos tão complexos por descobrir, perceber e comprometer-se com a sua transformação, sem hesitar. O MCE foi uma escola de cidadania onde aprendi a reinventar a vida e a acreditar nas pessoas.