Sindicato dos Médicos alerta para possível "catástrofe" com atrasos no serviço público
O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) alertou hoje que os atrasos causados pela pandemia no Serviço Nacional de Saúde (SNS) podem provocar uma "catástrofe" e desafiou o Governo a implementar uma "verdadeira retoma" da atividade dos serviços.
"O SIM exorta o Governo a que dê os passos que dele se espera, programando uma verdadeira retoma da atividade habitual nos serviços de saúde do SNS", refere o sindicato liderado pelo médico Jorge Roque da Cunha numa carta enviada hoje à ministra da Saúde, Marta Temido.
Segundo a estrutura sindical, esta retoma da atividade atrasada no SNS deve passar por "dois instrumentos principais à disposição" do Governo, caso da contratação de mais profissionais de saúde e da determinação de trabalho suplementar. "O Ministério da Saúde, ao invés de ter adotado uma ação continuada de contratação de mais profissionais de saúde, que já eram escassos antes de eclodir a pandemia, tem optado por afetar, em levas sucessivas, aqueles trabalhadores, de entre os quais os médicos, para cumprirem períodos de trabalho alargados no desenvolvimento de tarefas que os retiram do atendimento e acompanhamento aos seus doentes", refere a carta que a Lusa teve acesso.
Segundo o SIM, esta opção tem inviabilizado a deteção de "inúmeras e graves patologias no tempo certo", registando-se ainda "adiamentos perigosíssimos na realização de atos médicos e diagnósticos, mais ou menos complexos, mas em que a oportunidade é a chave inultrapassável para um bom prognóstico". De acordo com a mesma carta, a falta de profissionais de saúde verifica-se na emergência pré-hospitalar, nos hospitais e nos estabelecimentos que prestam cuidados de saúde primários.
Esta situação, segundo o sindicato, agravou-se com a pandemia da covid-19, uma vez que os profissionais que trabalham nos centros de saúde têm sido dirigidos para as áreas dedicadas aos doentes respiratórios e para a campanha nacional de vacinação que decorre desde o final de 2020. "Os nossos doentes não são acolhidos, não são despistados, nem são tratados. O somatório dos diferentes segmentos desta realidade prognostica um retrocesso nunca antes visto", alertou o SIM, que salientou que os "médicos portugueses, desde o início da pandemia, tem posto o seu melhor no tratamento dos milhares de doentes em cuidados intensivos e nas dezenas de milhar internadas nos hospitais", entre outras funções.
A 18 de março, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde afirmou que entraram em 2020 para o Serviço Nacional de Saúde mais de 1.100 médicos e que, em janeiro, iniciaram a sua formação outros cerca de 3.900 clínicos.
Segundo o secretário de Estado, através dos dois concursos de primeira e segunda épocas realizados em 2020, entraram para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) 426 médicos especialistas em medicina geral e familiar, 29 médicos de saúde pública e 700 médicos da área hospitalar, num total de 1.155 clínicos. "Para além disso, em janeiro entraram para a formação geral 2.032 médicos e iniciaram a sua formação específica 1.867 médicos, o maior número desde 2009", avançou Lacerda Sales, ao adiantar que, desde 2015, o SNS foi reforçado com mais 24 mil profissionais, entre os quais mais 4.000 médicos.
Em Portugal, morreram 16.945 pessoas dos 831.001 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.