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Gamar com style

Em Portugal, não há a cultura da verdade. O canalha é o esperto e o honesto o burro. O que se deixa corromper, rouba e se safa é herói e o que é sério é tonto. Os que roubam e desviam dinheiro, ou levam grandes empresas ou instituições à bancarrota e prejudicam centenas, milhares ou milhões de pessoas, parece que passam impunes à justiça e o que rouba comida no supermercado é colocado de imediato na prisão. Parece que o que é preciso é saber gamar com style!

A Madeira é um show! O big brother político que vivemos arrasta a credibilidade do Governo para o abismo porque quer se queira, quer não, as pessoas fazem a instituição. É o Presidente do Governo envolvido numa investigação de suspeita de corrupção. É o Secretário Regional de Economia que aparece numa reportagem que denuncia que ele recebeu dinheiro na sua conta pessoal, conjuntamente com 4 pessoas antes das eleições regionais e são outros casos de investigação que já vieram ao público. Confesso que achei curioso a escolha dos “militantes de confiança” de Rui Barreto para o acompanhar no empréstimo pessoal.

Não tenham qualquer dúvida – o julgamento público está feito. Ninguém está a acreditar na santidade destas jogatanas políticas. Está toda a gente a ver e a comentar “estão-nos a comer”!

À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta. Esta é uma frase que foi proferida por Júlio César após o julgamento da sua mulher, que depois de se ter provado a sua inocência de qualquer adultério, ainda assim, castigou-a por ter sido alvo de tentativa de sedução, divorciando-se. César, que viveu 100 anos antes de Cristo, já compreendia o impacto na opinião pública das suspeitas de idoneidade de carácter. Por cá, mais de 2000 anos depois, ainda não se aprendeu isto. Não se aprendeu isto e muitas outras coisas.

Ingénuo é o cidadão que pensa que tudo isto não tem consequências na sua vida do dia-a-dia. Entendam de uma vez por todas que não há almoços grátis. Tudo tem consequências. Daí que seja tão importante a idoneidade e seriedade dos políticos, sobretudo dos que gerem os dinheiros públicos.

É melhor começarmos a ter consciência que estas notícias nos arrastam como povo para a lama, pois somos nós, com o nosso voto e após contagem de todos os votos, que colocamos estes políticos no poder. Não deixem que nos envergonhem mais como povo. Exijamos o respeito que merecemos.

A nossa economia está a definhar e estas notícias só nos prejudicam na procura de soluções para os nossos problemas. A nossa credibilidade como Região junto do sistema bancário fica beliscada e não temos qualquer crédito de palavra para pedir celeridade do Governo da República no envio de dinheiro para a Região, sem que primeiro se discutam as regras de rigor técnico de aplicação do dinheiro. E nós, cidadãos, devemos, a nosso bem, exigir cada vez mais transparência e justificação das opções de investimento efetuadas.

Precisamos decidir: Vamos continuar a deixar haver intocáveis? Vivemos com cada vez mais dificuldades. Agora nem emigrar é solução. Portanto, é melhor começar a arregaçar as mangas para mudar o que tem de ser alterado. Lembram-se dos incêndios? Como é que nos safamos? Enfrentamos as chamas e nos ajudamos uns aos outros para salvarmos as nossas vidas e os nossos bens. Não podemos continuar na inércia. A solução está em nós.

À justiça o que é da justiça, mas politicamente quem manda é o povo. Cabe a cada um de nós exigir honestidade. No mínimo, temos o poder do nosso voto para fazer a diferença. Acordos autárquicos estão a ser feitos para as eleições de outubro. Estejamos atentos e sábios no futuro que queremos. O voto é a nossa maior arma. Exerçam o vosso poder! E se não concordam com nada disto, castiguem!

Se nada fizermos, qualquer dia vivemos sob uma mafia que nem nos deixa respirar. É isto que queremos para a nossa terra?

Lembram-se do custo do regabofe de dinheiros públicos que há uns anos atrás tivemos? Sofremos um Plano de Ajustamento Económico e Financeiro que nos colocou um cinto na cintura tão apertado que nos colou a barriga às costas. É isto que querem que volte a acontecer?

Não deixem que gozem connosco. Podemos ter pouco dinheiro no bolso, mas somos homens e mulher de garra, que trabalham, que lutam pelo futuro dos filhos, que se desdobram no apoio aos familiares idosos e que se deitam todas as noites de consciência tranquila com o sentido de dever cumprido e de ter feito o nosso melhor. A nossa bravura como povo está no nosso ADN e precisa vir ao de cima. Com inteligência. Não deixemos ninguém nos rebaixar e gozar da nossa seriedade e carácter. Não idolatrem gente que não chega aos nossos calcanhares.

Perante o que se passa, cabeças exigem-se. Digamos NÃO bem alto e em bom som aos alpinistas com espertezas saloias. Mesmo que agora nada seja feito, lembrem-se de tudo isto na hora do voto em outubro!