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Brindes de abril

A morte de Jorge Coelho verteu consternação para além dos socialistas, para com quem ele privou, dos mais variados quadrantes políticos que deram público testemunho. Ele foi uma “fera” política e ainda hoje lembramo-nos da sua espessura enquanto governante, ao assumir responsabilidade política aquando da queda da ponte de Entre-os-Rios e do seu desprendimento ao poder, no imediato decurso dessa fatalidade. Imagine o leitor se outros sequer lhe chegassem aos calcanhares, quando tombou o carvalho no Monte a 15 de agosto de 2017 a que estes intervenientes com a complacência da justiça, furtam-se a qualquer seringada no rabinho?

Durante todo o ano assiste-se àquilo a que denomino de “selvajaria rodoviária” nas nossas ruas, de maneira particularmente incidente na Avenida do Mar, Avenida Sá Carneiro, mas também noutros arruamentos da cidade. Refiro-me ao “pelotão” de alguns ciclistas e de “trotineiros” que em certas horas lideram as faixas de rodagem dos demais utilizadores das faixas de rodagem que pagam IUC’s, seguros obrigatórios etc. Não irei generalizar, porque seria injusto, mas, assiste-se a comportamentos irresponsáveis (também por parte de alguns condutores, é certo), que a lei vai “permitindo” e a selva subtilmente se instalando a olhos vistos.

A vários meses de distância, parte dos atores políticos e candidatos alinham-se para o embate das eleições autárquicas. O Funchal assume naturalmente especial importância, pois pode haver a tão esperada higienização de todos estes anos de socialismo “com todos”, iniciado pelo (pequeno) líder do PS Paulo Cafôfo, e secundado pelo atual “aprendiz de feiticeiro” Miguel Gouveia, a quem a presidência da câmara lhe caiu no colo como um fruto não vingado. Num tempo em que a pandemia retirou holofotes àqueles edis que nada concretizam ou materializam que não seja propaganda saloia, continuo a achar que a escolha de Pedro Calado, é matar o jogo com o ás de corte, quando a quina de trunfo dessa bisca, era mais que suficiente, face a uma cidade estagnada.

O nosso ex-primeiro ministro foi considerado um “mínimo” corrupto, pela leitura envergonhada do juiz de instrução madeirense Ivo Rosa. Não sou nada bairrista com os madeirenses e nem me sinto particularmente honrado ou desonrado pela origem daquele juiz de Santana. Todos nós temos uma perceção da culpabilidade ou não, de José Sócrates de tudo quanto ouvimos e lemos nestes longos sete anos. O sentimento que a generalidade de nós tem, é que a justiça, independentemente deste caso, está enferma, e distingue os poderosos da arraia miúda. Esta leitura pode ser simplista, mas está cada vez mais enraizada entre nós.

E porque a desconfiança não se cinge à justiça, a novela sobre a vacina da AstraZeneca/Oxford há muito que ultrapassou o patamar do ridículo, com a ativa colaboração de entidades que se julgavam idóneas, mas, apenas lançam confusão ao gerarem desconfiança entre as pessoas que em pânico, atiram-se ao rio infestado de crocodilos como os gnus do Serengeti ou Masai Mara à mercê do vírus, que silenciosamente mata muito mais do que os residuais efeitos secundários. A grande migração entre a verdade e a mentira não pára de oscilar.