Mudar a mangueira enquanto a cidade arde
O destino Madeira tem um novo logotipo. Não discuto a necessidade de um novo logotipo, mas normalmente as mudanças de imagem correspondem a alterações de posicionamento e/ou mudanças de estratégias.
Um logotipo corresponde sempre quer à imagem que se pretende transmitir, quer ao público que se pretende alcançar.
Olhando para o novo logotipo, imagino que corresponda a uma mudança de posicionamento e de estratégia de promoção, e deduzo que seja orientado no sentido de uma imagem jovem para um público jovem. Por outras palavras, (mais) um tiro no pé. Pum… porta-aviões ao fundo. O ridículo é que a batalha naval não permite ser afundado pelos tiros disparados pelo próprio. Mas na vida real isto acontece, e em relação à promoção da Madeira começa, na realidade, a ser um hábito.
O que é que temos para oferecer? Natureza (ainda), calma (ainda, e em alguns lugares), bem-estar (ainda, e nalguns contextos). Isto aponta para um público diferente do público-alvo que o novo logotipo parece apontar… Para o público deste logotipo temos de apostar em animação constante (caro e falível), temos de gerir e gerar preços (mais) baixos (tiro no pé), e em promoção constante (caro e falível) e em canais alternativos. Para o nosso público tradicional temos apenas de manter o statu quo (proteger a natureza, e garantir a calma), e promover estas novas regras para públicos muito específicos.
Para os empty nesters da Europa, as prioridades são calma, sustentabilidade (económica, ambiental e social) e calor. Idealmente sol, mas pelo menos não-frio. Para os dual income-no kids até podemos trabalhar produtos de nicho, como as levadas e o turismo aventura.
Penso que na sequência da epidemia o tamanho dos grupos vai diminuir, o que vai necessariamente levar a uma mudança do modelo, da mesma forma que vai aumentar a procura por canais independentes.
A aposta do destino tem de ser por estes caminhos. Pela criação de canais independentes dos operadores (o que permite aumentar as margens pela redução de intermediários) e, na medida do possível, é muito desejável que se criem acessibilidades próprias. Uma transportadora, própria ou partilhada, mas em que sejamos decisores, para nos ligar de forma independente aos mercados emissores. E uma ligação rápida, marítima, ao continente (continuo a defender Lisboa, porque é o maior centro logístico do país, para carga e passageiros), que nos dê condições de incrementar a competitividade, bem como aumentar a mobilidade dos cidadãos, e de bens e serviços.
Se a autoridade que gere o turismo na Região não consegue ver isto estamos muito mal. Porque preocupar-se com o logotipo é mais do mesmo. É usar receitas falhadas para problemas reais. É candidatar Calado à Câmara quando foi ele que a deixou de pantanas, de tanga. É votar no PSD quando já toda a gente viu que a solução não está – não pode estar – ali.
Este novo logotipo é o melhor exemplo do que está mal na Madeira. É dar a comer a um boy quando todo o sector anseia por apoios mas, mais do que isso, anseia por um sinal de que alguém se preocupa com os seus problemas e com as suas necessidades, e de que alguém percebe o problema e a conjuntura. Um novo logotipo é rir-se na cara de todos os empresários que ainda conseguem manter a funcionar as suas empresas.
Neste contexto, um novo logotipo é um escândalo.