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Uma Estirpe Chamada Negacionismo

Os negacionistas da Covid afirmam que a doença não existe, que o seu objetivo é o controlo das massas pelo medo

Desde o início da contemporaneidade que assistimos à impossibilidade de surgirem eventos de massas sem que, simultaneamente, apareçam grupos de indivíduos que os negam cegamente ou que, pior, os transformam em armas de cariz político a fim de atacar diferentes alvos. Todos nós conhecemos o típico negacionista: aquele que nega os resultados de uma certa eleição quando o resultado não é o desejado (verificada sempre que há uma eleição nos Estados Unidos por exemplo) ou ainda aquele que jura a pés juntos que certas pandemias, como é o caso da atual, não existem e são parte de planos governamentais com objetivos obscuros. É uma corrente de pensamento que assenta normalmente nas chamadas pseudociências e no populismo, mas que, acima de tudo, é o resultado mais corrompido daquilo que é a vontade de acreditar.

É por essa vontade de acreditar que, recentemente, a doença do negacionismo desenvolveu-se numa nova estirpe mais infeciosa e igualmente perigosa. Falo dos indivíduos que não pecam por negar a realidade e brutalidade da Covid-19, mas antes que rejeitam qualquer ligação entre a vacina AstraZeneca e os infames casos de tromboembolismo que se têm vindo a reportar desde o passado mês. Isto tudo quando nem ainda as próprias equipas de investigação destacadas para o efeito extraíram conclusões específicas e concretas acerca do fenómeno (apesar de já se saber existir uma ligação entre os dois eventos).

São bizarras as semelhanças na forma como funcionam estes dois grupos de negacionistas. Ambos têm “teorias de conspiração”, ambos apresentam justificações para se aceitar a sua posição como a certa apesar de se demonstrarem irrelevantes aos afetados e ambos acham que quem não concorda com eles é um ser paranoico, medroso e, acima de tudo, idiota. Os negacionistas da Covid afirmam que a doença não existe, que o seu objetivo é o controlo das massas pelo medo, que a sua gravidade é a mesma de uma gripe ligeira e que quem segue as diretivas é uma “ovelha” sem sentido crítico. Por sua vez, os negacionistas dos efeitos negativos da AstraZeneca defendem que a menção dos mesmos só serve de propaganda antibritânica em retaliação ao Brexit enquanto argumentam, incessantemente, que os riscos de não levar a vacina britânica são vastamente superiores aos de a levar. Declaram ainda que quem não quer ser vacinado com esta vacina é um conspiracionista paranoico, um antivaxxer e que devia ter em atenção a bula dos medicamentos que tem em casa visto que todos possuem efeitos “semelhantes” (sendo aqui importante destacar que não é comentado o facto de os efeitos secundários da vacina da AstraZeneca só terem sido descobertos há menos de dois meses e os de ditos medicamentos já serem estudados há anos). Em suma, a lógica destes grupos pode-se resumir na ideia de que, apesar de haver vítimas associadas à Covid e associadas à vacina da Astrazeneca, o que realmente importa é a “minha” vontade de acreditar que não existem novos problemas no Mundo.

Como de costume, para combater estes movimentos de populismo extremado, o que importa é o fornecimento de informação e permitir a cada indivíduo a tomada de decisão consciente em relação a uma questão de tamanha relevância. Há uma grande diferença entre a importância da vacinação da generalidade da população, que se trata de uma questão de saúde pública, e a censura de quem prefere levar uma vacina diferente daquela que se suspeita estar a causar efeitos secundários graves e potencialmente letais (não se rejeitando de todo o facto de outras também comportarem riscos como se veio a descobrir em relação à da Johnson). Por vezes estas abordagens negacionistas acertam na realidade das coisas, contudo, como diz o ditado, “até um relógio torto acerta nas horas duas vezes por dia”, o que não quer dizer que devamos basear os nossos horários em dito relógio.